Tuesday, May 25, 2004

 

MIB… muito Fish (fixe)

Fruto de tanto trabalhar com peixes, eis que tive o meu primeiro sonho com os ditos.
A Fish Facility era enorme, com muitos mais aquários do que os muitos que já existem. Uma luz diferente iluminava a sala… provavelmente o sol em vez das luzes artificiais que controlam os ciclos reprodutores do peixitos. Curiosamente, a atmosfera estava colorida de azul, como se de o reflexo de uma piscina se tratasse. Dentro dos aquários, uma excepcao. Nao os zebrafish que vemos nadar aleatoriamente para todos os lados mas sim peixes coloridos e brilhantes movendo-se em cardume. Aparentemente, o nosso laboratório era agora perito em estudar este tipo de comportamento.
O espectáculo era lindo. Todos os aquários, de azul turquesa, apresentavam um movimento sincronizado e harmonioso de massas coloridas de peixes resplandecentes. Contudo, por serem tao brilhantes, cada vez que mudavam de direccao os peixes emitiam um reflexo tao forte que, para podermos estar dentro da sala, todos tinhamos que usar óculos escuros. Sem qualquer razao aparente (antes pelo contrário dados os 28ºC que se fazem sentir nesta sala) para além dos óculos escuros (muito estilosos, diga-se) também envergávamos fatos escuros, tal e qual as típicas personagens dos filmes Man in Black. Hhhmm, curioso! O agente Smith, da Matrix, também lá estava. Deve-se ter enganado, hehehe.
Assim, aquela sala gigante, cheia de aquários e peixes "amestrados" mais parecia albergar a sede de uma missao extremamente secreta, protegida e supervisioanda pelos respectivos agentes, nós.

Acordei com uma dor de cabeca enorme (primeira desde sempre... estou a ficar velha, ai, ai).
Estou que nem posso... se calhar esqueci-me de usar os óculos escuros!

 

Concertos, o conserto necessario

Nada como um concerto para desanuviar a cabeca, libertar o corpo e a alma, descontrair, relaxar, socializar, dancar… ficar a sentir bem. Se remédio fosse, poder-se-ia dizer que nos últimos dias tomei uma overdose. Contudo, nunca a necessária para me deixar K.O.
Música é algo que nunca é demais.

Comecei na 6ª feira com o concerto dos Zero Seven. O sítio era muito fixe. Irving Plaza: tectos baixos, luzes indirectas, cortinas de veludo, chao e escadas de madeira. Muito acolhedor mas ao mesmo tempo suficientemente grande para albergar o pessoal todo sem que nos sentissemos apertados. Como esperado, a música que se escutou foi do agrado de todos. No fim, tanto a Célia como a Marie diziam ter sido um dos melhores concertos que já viram. Eu nao iria tao longe. Gostei, verdade, mas, a presenca de uma loira extremamente irritante constantemente a fazer piadinhas estúpidas no palco, contribui para que desenvolvesse um sentimento algo ambíguo. Se por uma lado nao gostei dela, ao mesmo tempo era a dona da voz mais sensual e intérprete da minha música preferida. Hhhmm… confesso que ainda nao sei como lidar com este dilema. No entanto, o balanco foi positivo e foi sem dúvida uma noite super agradável.

No Sábado variei um pouco de estilo e, juntamente com o Rui e os pais dele, fomos até um bar no Upper West side, sobejamente conhecido pelo Jazz que lá se toca e pelas Jam Sessions. Chama-se SMOKE e o nome só se deve mesmo å atmosfera intimista, mística e cúmplice que se experiencia lá dentro pois fumo, nem vê-lo. Essa é uma das particularidades de NY que tornam todos e quaisquer eventos públicos ainda mais agradáveis. Nada de tabaco! A luz das velas imperava e as poucas eléctricas que havia eram muito ténues. As pessoas distribuiam-se por pequenas mesas de madeira que acompanhavam os sofas de veludo verde ao comprimento da sala. Os músicos estavam pertíssimo. Nada de palcos ou estrados. Tudo ao mesmo nível, como se estivessemos entre amigos, na casa de um deles. O cabeca de lista era o trombonetista Steve Miles. Todos os músicos eram exímios intérpretes mas, o pianista encheu-me as medidas. Um indivíduo negro, grande. Lembrou-me a personagem principal do filme "Green Mile", com o Tom Hanks. Embora a estatura grande, conseguia ser bastante ágil e de uma sensibilidade extrema. Divertido, sorridente, castico. Parecia uma avozinho, daqueles que apetece apertar. Brincava com a música, com o piano, com os outros músicos, com o público. Impossível nao simpatizar com ele. O público era gente que apreciava mesmo jazz. Entao, olhando para a sala, vi-se um movimento partilhado e sincronizado de todos os corpos. Alguns dedos a estalar, uns dedos a batucar na mesa, uns pes a marcar o ritmo no chao.
Mais uma noite que se passou, mais uma noite agradável.

No Domingo, para variar um pouco, nao fui assistir a um concerto mas sim participar num. Foi o concerto do coro para o qual entrei há uns meses atrás. Cantámos numa igreja bastante grande, o que de incío me deixou com alguns receios quanto å capacidade que teríamos de ter publico que justificasse uma sala tao grande. Surpreendi-me pois tivemos mais de 400 pessoas a assistir, note-se, mesmo tendo que se pagar bilhete para entrar.
Soube-me pela vida estar naquele grupo, a cantar com uma orquestra como deve ser, um maestro devidamente aperaltado e com solistas de voz muito bons, elas de vestidos bonitos e coloridos… tal como quando se vai a um concerto “a sério”. Interpretámos uma missa de Beethoven com toda a intensidadde que conseguimos encontrar. Embora sejamos apenas 40 elementos, pareciamos ser 100, segundo o contrabaixista que nos acompanhou. No fim o pessoal explodiu numa chuva de aplausos enorme. Adoraram!!! Pelos vistos foi o melhor concerto de sempre deste grupo coral que só agora integrei. Embora cansados e transpirados, pois estava um calor húmido insuportável e tinhamos todos que envergar indumentarias pretas, o sentimento geral era de satisfacao e concretizacao. Gostei mesmo muito. Deu-me um gozo imenso.
Tal como iniciei esta cronica, torno a dizer… quando algumas coisas parecem nao ter conserto, nada com um concerto.

Thursday, May 20, 2004

 

Forro em NY

Ontem foi uma noite pouco usual.
Jantei numa mesa com 10 pessoas. Das 3 que conhecia de início (Portuguesa e Brasileiros) passei a conhecer mais 4 Espanhóis, 1 Argentino e 1 Francês. O facto de o restaurante ser Italiano até fazia algum sentido dada a proximidade das línguas... Português, Espanhol, Italiano, Francês... vai quase tudo dar no mesmo! Está tudo pertinho!
Como sempre, a diversidade de línguas e experiências tornou esta reuniao bastante interessante. Contudo, a contribuicao de um corpo de bombeiros Nova Iorquinos foi a cereja no topo do bolo. Calmamente sentada å mesa, sinto a minha cadeira ser de repente empurrada violentamente por algo do outro lado da cortina que se encontrava por tras de mim. "Alguém que caiu!", pensei, mas nisto vejo uma cara de espanto, com um chapéu enorme e um machado a espreitar. Nada mais nada menos que um bombeiro que, por engano, decidiu arrombar a porta 2 números abaixo do desejado. Afinal o que estava por trás da cortina era uma saída de emergência. Pensamento imdediato "A minha vida continua um filme!!!"

De barriga cheia e satisfeitos, eu, a Andreia e o Daniel dirigimo-nos para o Nundun, bar/club Brasileiro onde, ås 4ª feiras impera o Forró.
Abro aqui um parêntesis para dizer que no ano passado passei 7 semanas no Brasil, viagem em que fiquei viciada nesta danca. Assim, nao descansei enquanto nao encontrei um sítio onde a dancar aqui por estas bandas e, claro está, as "vítimas" a ir comigo, hehehe.
O sítio é mesmo muito giro e a banda ao vivo óptima. Sempre a desafiar o Daniel (Brasileiro) lá deu para relembrar os passos já algo esquecidos. Nao era o Brasil: faltavam as peles morenas, os nativos, as chinelas nos pés, os bikinis, cangas e calcoes de banho, as estrelas, o luar, mar e praia, o espaco enorme para dancar e rodar por todo o lado, os constantes requisitos para dancar MAS... valeu mesmo muito a pena. Diverti-me, dancei, ri... gostei. Foi um cheirinho a Brasil!

Wednesday, May 19, 2004

 

Social Life Manager

A vida dá realmente muitas voltas e o mundo é de facto muito pequeno.

Há dias relatava memórias que tinha de uma ida a Frankfurt para me encontrar com o Thorsten, moco que conheci numa festa em Heidelberg e com quem assisti a um recital de piano. Nem de propósito, recentemente, após mais de um ano sem contacto, reatámos a correspondência por email. Falei-lhe das primeiras impressoes de NY que incluiram, obviamente, a dificuldade que tenho sentido em fazer amigos e integrar-me num grupo.
Ora se nao foi assim que arranjei um manager para a minha vida social!
Hoje recebi um mail do Thorsten onde me falava de um amigo que tem cá, com quem morou um ano em Londres e que está mais que na disposicao para que nos encontremos e, quica, me ajudar a encontrar e conhecer pessoas.
Digam lá que nao é super curioso?! Eu, Portuguesinha de gema, em Nova Iorque, a receber dicas de uma amigo na Alemanha que conhece alguém por aqui... por acaso nao sei a nacionalidade mas, com sorte, alguém de um outro país, para complementar a Internacionalidade que impera.

Fiquei feliz e curiosa!

Tuesday, May 18, 2004

 

"Brasileiro": Arte de dizer muito com poucas palavras

Enquanto embrenhada na leitura de um artigo, no lab, a música que decorria nos meus fones passava despercebida. Contudo, a determinado trecho, toda a minha atencao foi desviada para um verso que era cantado na altura com o mel que só os Brasileiros têm na voz... e com a simplicidade que conseguem atingir para dizer e falar de assuntos complexos.
Falava de Saudade e descrevia algo que até agora nunca tinha sentido tao intensamente... de forma simples.

" A Saudade é um trém de metrô
Subterrâneo, obscuro
Escuro, claro
E' um trém de metrô

A Saudade é prego parafuso
Quanto mais aperta
Tanto mais dificil arrancar

A Saudade é um filme sem côr
Que meu coracao quer ver colorido

A Saudade é uma concha velha
Que cobriu um dia
Numa noite fria
Nosso Amor em brasa

A Saudade é Bridgitte Bardot
Acenando com a mao
Num filme muito antigo"

(Zeca Baleiro
"Bridgitte Bardot", in LIRICAS)

Sunday, May 16, 2004

 

Depois da Tempestade...

Este Domingo está a ser uma bela de uma seca.
O dia lá fora está lindo, o que o torna ainda mais seca, uma vez que tenho que estar no lab.
Hoje tocou-me a mim alimentar os aquários. Nao exagero se disser que sao mais que 3000 tanques que têm que ser, um a um, suplementados com comida... duas vezes por dia. Quando chego ao fim já me doi a mao de tanto esguichar larvas de camarao. Sim, porque estes peixes sao muito finos. Só de camarao para cima!
De vez em quando, no intervalo, lá apareceu alguém online com quem pude trocar algumas impressoes: Patrick, Joao, amigos em Setúbal, família no Brasil mas... mesmo assim, uma seca!
Nao há música que me anime. Estou farta de escolher CDs mas hoje nao há nenhum que me preencha. Para ajudar å festa, estou agora å espera que uns embrioes corem... o que pode levar de 1 a 3 horas. Humpf... na falta de melhor, decidi escrever alguma coisa mas, pelo andar da carruagem, parece que nao vai sair nada de jeito. Olha, estou como o FCP, que tambem nao conseguiu um resultado de jeito. Grrrr!!!
Uma tremenda seca!! O mais irónico, é que ontem å noite choveu a cântaros ao mesmo tempo que um trovoada brutal encheu os céus de Manhattan de faíscas, raios luminosos e um barulho ensurdecedor. Foi extraordinário!! Até dormi de cortinas subidas e janela aberta, para ouvir e ver o espectáculo enquanto adormecia.
Mas, afinal... depois da tempestade nao veio a bonanca... veio a seca!

Friday, May 14, 2004

 

Amor... uma bicicleta de 2 lugares!

Acabei de ver um filme lindíssimo!
"Italiano para Principiantes". Fala de pessoas, de vidas, de encontros, de amor... algo bonito, algo simples.

Recordei-me de um pensamento que tive durante a volta de bicicleta ao ver um casal de velhotes numa bicicleta para dois.
Sempre tive um fascínio enorme por estas bicicletas colectivas. Quando miúda fascinavam-me essencialmente por serem diferentes e por, se tivessem mais 2 lugares, poderem levar os meus pais e irma. A ideia da família toda a pedalar sempre me divertiu. Agora, já nao mais a menina de 8 anos mas sim aquela com mais 18 anos, em que a família é um aconchego mas comeca a faltar algo mais, a bicicleta que me fascina já nao é de 4 lugares mas sim a de 2.
Ao ver aqueles velhotes a pedalar percebi que via no conjunto o que é para mim o amor. Uma viagem, na qual seguem duas pessoas. Há entre-ajuda, amizade, companheirismo. Cooperam para um mesmo objectivo... ao mesmo ritmo, na mesma direccao, com o mesmo horizonte e o mesmo pôr do sol. O tempo passa, a viagem continua... sempre juntos.
Tao bonito, tao simples!

Thursday, May 13, 2004

 

Por favor, tirem-me deste filme!!!!!

" Milhões de Cigarras Invadem Estados Unidos

Durante os próximos dias, milhares de milhões de cigarras vão invadir a zona leste dos Estados Unidos. Depois de 17 anos debaixo da terra, estes insectos preparam-se para atingir a superfície e concluir as últimas três semanas do seu ciclo vital. O "Enxame X", como é conhecido, é a mais significativa emergência em massa destes inofensivos insectos e promete cobrir casas e edifícios, alcatifar ruas e quintais em 15 estados norte-americanos, do norte da Geórgia até ao sul de Nova Iorque. A densidade estimada pelos especialistas é de 3,5 milhões de cigarras por hectare....

(in PUBLICO, 13 Maio 2004)

E eu que julguei que já tinha passado por muitas coisas más desde que cá estou...
Basicamente, este é o meu pior pesadelo tornado realidade.
HHHHHHHHHEEEEEEELLLLLLLLLPPPPPPPPPPPP!!!!!!!!!!!!!

Wednesday, May 12, 2004

 

Not the New York Times... but "The Times in New York" instead!

"Great Talk! Very interesting data! It is very rare that in such early stage of your work one can already see a story" (PostDoc)

"By the way, great presentation!" (PostDoc)

"Well done Inês. Very well prepared and analysed!" (MD PhD student)

"Very good lab meeting!" (PhD Student)

"Were you nervous? I couldn't tell! Comparing to other "1st time" lab meetings this was definitelly one of the best! Rank #1" (Technician)

"I'm impressed!!!" (Boss)

(in "The Times in New York" :))

Sei que um pouco de modéstia nao fica mal a ninguém mas, da mesma forma que partilho os momentos maus, também gosto de o fazer quando as coisas correm bem. Assim, eis algumas das frases que ouvi após ter dado a minha 1ª Lab Meeting. Confesso que fiquei toda orgulhosa! Embora as circunstâncias emocionais nao sejam as melhores de há um tempo para cá, fiquei contente por me saber capaz de separar profissional de pessoal e ser um "projecto" de cientista competente.
Bem, enough of enjoying this moment... time to prepare the next!

 

Ja ganhamos!!!

"Durão Cancela Visita Oficial ao México para Apoiar o FC-Porto

O primeiro-ministro, Durão Barroso, adiou para o Outono uma visita oficial ao México, de forma a poder assistir à final da Liga dos Campeões, entre o FC Porto e o Mónaco, que terá lugar no próximo dia 26, na Alemanha."

(in PUBLICO, 12 Maio 2004)

Olha a nossa sorte!
Com este vulto do desporto Portugues do nosso lado (sim, porque a politica nada mais é que um jogo cheio de acrobacias) nao existem quaisquer dúvidas de que nós, Dragoes, sairemos vencedores!

Monday, May 10, 2004

 

Toca a todos

Sentia algum desconforto...

"Falta-me algo!"

Apetecia-me um "docinho", algo para me adocar a boca e os sentidos. Como estava com compromissos marcados, nao pude jantar apropriadamente e a sobremesa ficou para depois. "Compro uma tablete Cadburry pelo caminho", pensei. Mas, de imediato me surpreendi com o pensamento que se seguiu.

"Nah, nao consigo comer tudo!"

Quê??? Como é que alguma vez este pensamento me pode ter passado pela cabeca? Eu, que frustrei os esforcos Herculeos dos meus pais em me tentarem fartar de chocolate dando-me quantidades absurdas ao que eu, ainda a lamber os dedos, respondia com um desconcertante "Há mais?!" . Nao queria crer!! Pelo sim pelo nao, lá segui para o super mercado e comprei a dita tablete.

"Deve ter sido só um desvario passageiro!"

Qual ritual, repetido tantas e tantas vezes, rasguei a prata por forma a expôr a quantidade suficiente para dar uma mordida. Saboreei com gosto... mais um quadrado, mais outro...
Contudo, o meu maior receio revelou-se verdade. Metade da tablete ficou a rir-se de mim pois já nao me apetecia mais.
Ainda incrédula, só me pude conformar.
Entao é isto que significa envelhecer!!!

Sunday, May 09, 2004

 

Musica (Part IV) - "Possa... Estou em NY!"

Ouvir o Boozoo Bajou ao vivo e' ja' de si algo que me deixa entusiasmada, pois gosto imenso da musica destes dois tipos. Ouvi-los num cenario tao especatcular quando aquele onde estiveram na passada 6ª feira e' que transcendeu em muito todas e quaisquer expecativas que eu pudesse ter.
A actuacao dos DJs em questao integrou-se num conjunto de concertos entitulados "Turntables on the Hudson", eventos estes que decorrem nada mais nada menos que num barco. A paisagem nocturna e' magnifica: chegados ao West Side da rua 23 deparamo-nos com o rio Hudson que, ladeado por uma imensidao de predios iluminados, mais parece um lago enorme. A noite estava limpa e a luz da lua rivalizava com as luzes da cidade, iluminando as aguas. De um lado, as luzes de New Jersey, mais 'a frente o clarao do Financial District e, do outro lado, o Empire State Building, naquela noite vestido de azul. A noite estava agradabilissima. A brisa nao era nem demasiado quente nem demasiado fria. Ideal!
O barco, "The Frying Pan", uma vez naufragado e afundado, foi recuperado e posto de novo a flutuar. Mais parecia estarmos a entrar num museu e a viajar no tempo de tantas as historias que poderiam ser contadas pelas escotilhas enferrujadas, ferros amarelados, canos, correntes, camarotes, maquinas... Tive a nitida sensacao de estar a ver as imagens da carcaca do verdadeiro Titanic. As luzes de diferentes cores e indirectas tornavam o ambiente bastante mistico. Descido um lanco de escadas chegamos ao porao onde, num espaco amplo, fica a pista de danca. Dos lados, confundido-se com o ferro velho, alguns sofas de veludo cocado ou cobertos com mantas. Do lado oposto a uma parede cheia de alavancas de fusiveis por onde, noutros tempos, correram certamente altas voltagens, uma plataforma sobre-elevada, igualmente enferrujada, de onde se destaca a bateria e instrumentos de percursao. Um pouco atras, uma pequena sala, quem sabe um velha casa das maquinas. Na janela escancarada e sem vidros veem-se os DJs. A musica ambiente em breve se tornou em batidas mais conhecidas e fortes, chamando para a pista toda a gente, que em pouco tempo a encheu.
Nao havia um estilo unico. Toda a gente era como cada qual, imperando uma variedade enorme de visuais. Fascinou-me olhar para aquela gente toda, estar no meio da multidao, naquele ambiente surreal e fantastico, movida ao som daquelas batidas. Dancar, sentir o ritmo, fechar os olhos e sentir o leve desequilibrio que as aguas do rio Hudson provocavam ao bambolear o barco... quase que imperceptivel. Sentia euforia, quase que felicidade... Lembro-me de pensar que nao trocaria aquele momento nem o que estava a sentir por nada deste mundo.
"E' o aqui e o agora. Qual Portugal, qual Joao, qual familia... estou aqui... Possa, estou em Nova Iorque!!!"
Senti a cidade!

Saturday, May 08, 2004

 

Musica (Parte III) - Beethoven, Mahler, Brahms... Tomates e Couves

Uma das vantagens de se viver na capital do mundo e' sem duvida o facto de nao haver horas para nada. Nada para.
A qualquer hora consegue-se encontrar uma loja que vende exactamente aquilo que precisamos. Ainda bem que assim e' pois caso contrario seria dificil conseguir ter sempre comida em casa. Normalmente, compro verduras e frutas numa lojinha de esquina perto da rua 18, na 1ª Avenida. Se no inicio o fazia apenas por necessidade, passou-se a juntar o util ao agradavel e vou la' tambem para um momento de cultura. Isto porque a banda sonora do cenario repleto de frutas lustrosas e legumes vicosos e' sempre musica classica. Imperetrivelmente, o radio esta' sintonizado na emissora classica e espalha as obras de grandes compositores por toda a loja. Enquanto cheiro ou tacteio algumas pecas de fruta ou avalio a frescura de um molho de broculos trauteio uma sinfonia de Beethoven ou um concerto para clarinete de Mozart. Lembro-me de me rir com um pensamento maroto que me ocorreu: "Tomates, Beethoven... os tomates do Beethoven! Quem alguma vez se lembraria disto? So' mesmo eu, a estas horas da noite, numa frutaria em NY!!"
O ambiente e' calmo e relaxante, o que combina com o sorriso placido do dono chines que, 'a forca de me ver la' tantas vezes a altas horas da noite, ja' me reconhece e sorri com cumplicidade.
Nunca pensei fazer tal associacao mas, pensado em cenouras e couves lembro-me de musica classica e acabo por sentir a tipica calma de um fim do dia e do descanco do guerreiro que geralmente vem apos ter feito as compras do dia!

 

Musica (Parte II) - No Elevador



Cansada, chegava a casa tarde, apos mais um dia de intenso trabalho.
Preguicosamente pressionei o botao do elevador e entrei. Ao mesmo tempo que o fiz, o elevador do lado, vindo de um piso inferior, seguiu caminho quase que paralelamente ao meu. Os escassos segundos que me levaram ate' ao 4º andar revelaram-se a melhor parte do dia. No elevador ao lado, o seu ocupante (uma mulher), julgando-se so', enchia o silencio com uma voz aveludada e poderosa: ouvi parte de um espiritual negro eximiamente interpretado. Obviamente alguem negro, pois so' eles foram abencoados com o dom de fazer soar a alma nas cordas vocais. Desejei que a viagem fosse mais longa. Chegada ao 4º andar ainda fiquei junto ao elevador a ouvir aquela voz desvanecer-se nos andares superiores. Que excelente regresso a casa!

Friday, May 07, 2004

 

Musica (Parte I) - 24.93 Gigas

Uma parte importante da minha vida e' preenchida com musica... essencialmente ouvindo-a e tentando descobrir novos sons.

Ontem, parecia uma crianca em frente a uma vitrine de uma loja de doces quando me sentei em frente ao computador, apos o ter enchido com nada mais nada menos que 24.93 Gigas de musica. 5299 cancoes!! Obtive tal tesouro de alguem no lab que, tal como eu, e' viciado em musica. Preparamos o evento meticulosamente: eu traria o meu laptop para o lab e o Thomas traria o seu iPod e os respectivos cabos. Em qualquer coisa como 30 minutos, o conteudo da pequena maquina foi literalmente sugado pelo meu Mac.
"Ganda bomba"!
Estava ansiosa por chegar a casa e poder comecar a explorar esta nova aquisicao. Perante tanta escolha e variedade nem sabia por onde comecar. Mas nao me atrapalhei: vai de ouvir os 2 albuns dos Zero Seven que, por um lapso inqualificavel, deixei em Portugal e que serao os autores do proximo concerto que vou ver aqui em NY. Acompanhada por esse excelente som, redigi a cronica anterior. Acho que ate' o fiz mais devagar, so' para poder ouvir os albuns ate' ao fim.
A determinada altura viajei ate' Heidelberg. Numa festa conheci o Thorsten, rapaz com quem houve de imediato uma simpatia mutua. Dois dedos de conversa chegaram para perceber que ambos gostavamos muito de musica, pelo que combinamos um encontro em Frankfurt, para assistirmos a um recital de piano. Durante o trajecto de comboio ate' la' a banda sonora foi o na altura recem adquirido album dos Zero Seven (Simple Things), onde me apaixonei irremediavelmente pela musica nº7. A partir dai', sempre que a ouco lembro-me do dia em que conheci este rapaz tao simpatico, do fantastico recital a que assistimos e como estava bonita Frankfurt 'a noite quando o Thorsten me levou ao topo de um arranha ceus para ver os telhados da cidade.
E' bom associar musicas boas a momentos bons.
Ah.... como sabe bem!
O cenario era acolhedor: de pijama e envolta num roupao branco escrevi iluminada por uma luz tenue que, indirecta e timidamente enchia o quarto... aconchegante. Na boca, o sabor a chocolate negro... gelado Godiva. Hhmm!!! E aquele som, aquelas memorias... Dormi aconchegada.

A relacao que tenho com a musica e' de facto suis generis. Nao e' raro conseguir lembrar-me de filmes e de cenas especificas quando, em situacoes completamente desligadas, ouco um trecho da uma banda sonora. Muitas vezes ao sair da sala de cinema a primeira coisa que comento e' a banda sonora que, exceptuando o meu pai, raramente alguem ouviu! Sempre que vou viajar o meu primeiro pensamento vai para a minha coleccao de CDs. "Como os vou levar?", "Onde os vou ouvir?" Lembro que na primeira vez que fui para a Alemanha (por um periodo de 5 semanas) levei uma mala SO' com o radio e os CDs. A vinda para os USA revelava-se mais complicada, pois tinha que trazer muito mais coisas mas, apos muitas e muitas horas a converter CDs em MP3s e a grava-los, consegui trazer quase todos. Note-se que o quase e' a palavra chave. Os pouco que ficaram do outro lado do Atlantico fazem-me sentir algo despida... como se me faltasse algo permanentemente. O mais engracado e' que raramente os ouco a todos. Ha' alguns que seguramente ha' mais de uma ano nao sao escutados mas... gosto de os ter comigo. Nunca se sabe quando vou precisar especificamente daquele som!
Pancas, dirao muitos... eu chamo-lhe, mais uma vez, sensibilidade.
Por isso vou relatar mais uns quantos episodios que se relacionam obviamente com musica.
Ooops... tera' que ficar para mais tarde. A ida a um concerto num barco no meio do rio Hudson para ouvir e dancar ao som da musica de Boozoo Bajou chama-me. Sempre sera' mais um relato!

(continua)

Thursday, May 06, 2004

 

Sensibilidades

Hoje tive um dia repleto de "ser humano"... como ja' ha' muito nao sucedia.
Hoje pude beijar, abracar e rir. Sentir o contacto e proximidade de outra pessoa, por fora e por dentro... ficar feliz!
Durante a tarde, enquanto preparava uma apresentacao, de fones enfiados nos ouvidos e embrenhada no som dos pensamentos e da musica, sinto tocarem-me no ombro.
"Would you like to come for a break?"
Era a Nathalia, moca com quem trabalho em algumas partes do meu projecto. E' alguem que, mesmo antes de eu vir para ca', ja' me apoiava e ajudava muito e com quem, se bem se lembram, passei algumas aventuras aquando da compra e transporte de mobilia para o quarto. Sempre a senti como a minha "maezinha", pois e' mais velha e sabia e tem uma sensibilidade extraordinaria para nos fazer sentir bem mesmo quando nao fazemos tudo acertadamente. Apoia-me sempre, em tudo. Gosto muito dela! Desde logo, como boa Portuguesa que sou, que senti vontade de lhe expremir a minha gratidao com um abraco apertado mas, nao fosse eu interferir com identidades culturais (tal como acontecia na Alemanha sempre que me dirigia alguem para a beijar na cara. Reagiam como se eu estivesse a fazer a maior barbaridade) nunca me atrevi a tal.
Contudo, acho que ela conseguiu perceber isso e hoje chamou-me e friso, especialmente a mim, para me confidenciar algo que lhe e' extremamente precioso e pessoal. Como confidencia que e', e' obvio que nao vou referir sobre o que falamos mas, agradou-me imensamente saber que, alguem que admiro e gosto, nutre por mim confianca suficiente para me falar de algo sobre o qual nao se sentiu 'a vontade para falar com outros colegas de laboratorio, maioria deles companheiro de anos. "Sei que tu vais perceber e ficar feliz por mim. Es uma pessoa muito sensivel!"
Acertou, fiquei felicissima por ela e ai' sim, dada a prova de confianca, senti-me com todo o direito de a abracar e felicitar. Soube tao bem! O contacto humano/fisico e' das coisas de que mais falta sinto e que, por muitas chamadas telefonicas e mails, nao consegue ser colmatado. Soube bem a proximidade fisica, a cumplicidade e a amizade que obviamente se consolidou.
Soube bem o "ser humano"!

Considero-me uma pessoa sensivel. Surpreende-me, no entanto, verificar que, 'as vezes, o que considero ser uma sensibilidade normal se revela algo extremamente novo para os outros. Lembro a surpresa do Joao ao ver lagrimas correrem-me pelo rosto em determinados trechos do concerto de musica classica a que fomos assistir. Mesmo estando habituados 'a minha maneira de ser, tambem ja' consegui por diversas vezes surpreender os meus pais ao lembrar-me de pormenores, na sua maioria relacionados com cheiros e sons, ocorridos na minha infancia e que passaram despercebidos a quase toda a gente. Aqui, as pessoas estranham que a primeira coisa que menciono ao referir-me a saudades seja o Mar... mas a mim parece-me tudo tao normal!
Se calhar tenho, de facto, uma maneira de sentir as coisas que nao e' comum... talvez percepcione a realidade demasiado intensamente ou atraves de prismas que, na sua maioria, as pessoas nao possuem...
Nao gostaria de sentir de maneira diferente.
Sou assim e nao quero mudar... mas esta consciencia traz-me tambem alguma tristeza. Acontece muitas vezes tentar partilhar pequenas coisas que para mim sao importantes e nao receber qualquer feedback... nao sou compreendida. Assim, traz-me a tristeza de perceber o quao dificil e' encontrar alguem que partilhe e compreenda o meu "Eu". Alguem que me consiga ver e apreciar pelo que eu sou, pela maneira como eu sinto e vivo as coisas... Sera' assim tao dificil?
Por isso fiquei tao feliz com a atitude da Nathalia.
Por uns momentos ela "viu-me"!

Tuesday, May 04, 2004

 

Teca, Teca, Teca... Zinga, Zinga, Zinga... Zzwwweeeee!!! Fantastico!

Domingo, 6:30 da manha.
O dia estava cinzento e pouco convidativo. Vacilei entre o sair de casa e o permanecer no edredon quentinho. O boletim metereologico previa chuva e trovoada. Em busca de algum apoio, telefonei ao Thomas e 'a Celia para saber o que pensavam fazer.
"Nos vamos!!"
Acho que lhes ficarei eternamente grata por esta frase, pois o ter decidido ir ao Bike New York foi das melhores coisas que ja' fiz. Este e' um evento que ocorre anualmente em NY e que preve um percurso de 42 milhas (aproximadamente 60 km) ao longo dos quais milhares de pessoas pedalam e percorrem os 5 "bairros": Manhattan, Bronx, Queens, Brooklyn e Staten Island. 'As 7 da matina la' me encontrava eu no cruzamento da Houston com a Broadway, como combinado, revelando-se o percurso ate' la' ja' bastante interessante. De todos os lados surgiam grupos de ciclistas que, sem excepcao, se dirigiam para Battery Park. Alguns rasgos de originalidade ja' deixavam adivinhar o festival que se aproximava. Chegados ao local de partida, o entusiasmo dominante nem nos deixava perceber que estavamos com o Ground Zero por cenario. Tanto para a frente como para tras so' conseguiamos vislumbrar um mar interminavel de gente. 30.000 pessoas reunidas numa festa de cor e energia.
Os capacetes eram sem duvida motivo para admiracao uma vez que muitos deles estavam enfeitados com os mais diversos objectos: ventoinhas, girassois, latas de Coca-Cola, flores, garrafas, desentupidores de casa-de-banho, peluches, cabelos posticos, antenas... tudo e mais alguma coisa. Muitas "bicicletas" tambem primavam pela originalidade, ora por serem daquelas antigas com uma roda gigante ou, no outro extremo, por serem muito modernas e aerodinamicas, serem rente ao chao, serem para 3 pessoas, serem um cart de tenis, puxarem mini-carruagens com criancas la' dentro (note-se, entretidas com livros e/ou DVD players... modernices!!). Muitos ciclistas impunham respeito pela profissionalidade com que ostentavam os fatos e acessorios especificos e especiais, o que contrastava com a maioria do pessoal: barrigudos e barrigudas, gordos e gordas, velhotes e velhotas, altos, baixos... mas todos com uma coisa em comum: um sorriso e uma boa disposicao extraordinarios e uma vontade enorme de pedalar.
Ainda demorou ate' que comecassemos a avancar pois, muito embora as avenidas sejam largas, era tal o numero de pessoas que tinhamos que partir em blocos. Foi uma delicia e o descobrir de uma nova cidade quando finalmente pedalamos pela Av. das Americas (6ª Avenida), completamente vedada ao transito e reservada so' para nos. O som era inexplicavel. O teca-teca-teca das correntes gerava um som silencioso e harmonioso que nao passava despercebido a nenhum de nos, habituados ao barulho do transito. "Qual maratona qual carapuca!" dizia o Thomas, "Isto e' que e' The Real Thing!". Todos estavamos possuidos por aquela euforia e alegria miudinha que, a' medida que perdemos a nossa meninice, se torna cada vez mais rara e precisosa. Inexplicavel!!
Atravessada a Avenida chegamos ao Central Park, juntamente com alguns aguaceiros que, dai' a nada, se converteram em verdadeira chuva. Mas nada parecia esmorecer o pessoal. Ja' toda encharcada e a pingar agua pelo capacete e canelas abaixo, continuava toda entusiasmada a pedalar. Senti-me qual corredor profissional que, independentemente das adversidades, continua firme na sua contenda. Zinga-zinga-zinga la' fomos nos acima e abaixo pelo parque fora. Note-se que o "zinga-zinga" aqui mencionado se refere a uma das muitas vezes que me lembrei do meu pai. Ele usa sempre esta expressao para descrever um movimento continuado, revestido de algum esforco, mas que nos leva sempre a algo que desejamos. Nao podia ser mais apropriado!
Entramos no Harlem ainda com chuva mas, quando ja' nos iamos a dirigir para o Bronx, o S.Pedro la' deciciu dar-nos umas treguas. Curioso como, so' de observar a area, se percebe perfeitamente onde estamos. No Harlem a religiosidade esta' extremamente presente nos edifios (que exibem cartazes com o nome de Jesus, ceitas e Igrejas) e nas pessoas. O tipico negro, corpulento, qual Gospel, estava em todo o lado. Tambem foi facil perceber quando entramos no Bronx, infelizmente pela pobreza e degradacao. O mais engracado e' que foi neste cenario que experienciamos uma das situacoes mais engracadas e ternas de toda a corrida. No meio daquele cenario desolador, uma mulatita, dos seu 6 ou 7 anos, juntamente com a sua mae, produzia alegremente bolas de sabao junto 'a berma da estrada. Criava uma cortina quase que magica, por onde todos tinhamos que passar. As bolas de sabao e a felicidade do sorriso branco daquela crianca fizeram-me sorrir! Foi das coisas que mais gostei!
Em determinado troco da autoestrada tivemos que atravessar um tunel. Foi um espectaculo! A nocao de eco trouxe 'a superficie de cada um dos ciclistas os instintos mais basicos, comecando o pessoal todos aos gritos, berros e guinchos. Eu so' me ria! Olhando para os meus companheiros de Tour, vi que a reaccao era a mesma. Naquele chinfrim todo conseguia distinguir-se a evolucao que sofremos, como especie humana (ok, ja' sei que isto e' visao de Biologa, hehehe). Havia desde guinchos a imitar chimpanzes e macacos, passando pelo tao tipico berro do Tarzan. Claro que o grito mais evoluido surgiu quando, de goelas abertas, gritei "Bibo' Puuoorrttto!!!!!". O que vale e' que ninguem me percebia, hehehe. Coisas...
A organizacao do evento foi extraordinaria, nao faltando montes de pontos de assistencia e sinalizacao ao longo do percurso, bem como a presenca de ambulancias e policia. A determinada altura, apos uma leve subida, atingimos um pico a partir do qual comecariamos a descer bastante. Como em todos os locais propensos a quedas, la' se encontrava um mafarrico de colete fluorescente e megafone a avisar "Curve to the right! Slow Down! Slown Down!"
A coisa nao me pareceu assim tao perigosa pelo que nao estive com meias medidas: zinga, zinga, zinga para ganhar lanco e, quando a descer:
Zzzwwwwwweeeeeeeee (como diz o Joao em situacoes de movimento alucinante)... e la' fui eu.
Ao ver-me com tanto speed o homenzito tambem nao se atrapalhou:
"Slow Down! No zweee!!"
Fonfonfon! Fonfonfon! Foi risota geral, nao so' entre mim e os meus "companheiros de luta" bem como entre todos os que pedalavam naquela area. Dai' em diante, cada vez que iamos numa descida, la' um de nos se lembrava de fazer zweeeee e desatavamos a rir!
Num dos pontos de reabastecimento paramos e qual nao e' o nosso espanto quando vemos a pedalar um pouco mais 'a nossa frente uma moca vestida de noiva. "Deve ser no gozo" pensamos mas, aproximando-nos um pouco mais, vimos que ela ia juntamente com um rapaz igualmente aperaltado e que, em ambas as bicicletas, figurava um cartaz onde se lia "Just married". "Espectacular! So' mesmo este Americanos doidos para fazer isto!"", disse eu, ao que o Thomas me respondeu com um sorriso "You're so naive Ines!!". Contudo, o ramo de flores frescas, os sapatos de salto alto e a maquilhagem nao me conveceram que seria so' para o gozo. Assim que tive oportunidade, nessa area de reabastecimento dirigi-me a eles:
"Did you get married today?"
"Yes!"
Afinal de contas nao sou assim tao ingenua, hehee. Aqui, tudo e' possivel.
Nos entretantos, o tempo passou de chuvoso e morrinhento para enevoado e depois para algumas abertas com sol, que se foram alargando cada vez mais, terminando numa tarde de sol optima. Por esta altura pedalavamos ja' no fim de Queens, pela autoestrada, em direccao 'a ponte Verizzano, que une Queens a Staten Island. E' uma ponte de varios kilometros mas que nos so' podemos imaginar pois ve-los... nem po'. Isto porque todo o tabuleiro da ponte se encontrava envolto por uma nuvem que parecia ter la' sido posta de proposito. Via-se o inicio da ponte, via-se o fim mas o meio ficava como que num limbo. Reservaram para o fim o pedaco mais custoso mas, mesmo assim, nada de extraordinario. Num ram-ram algo lento, fomos subindo o relevo ingreme. O vento de lado nao ajudava. Entrando na ponte, viamos o nevoeiro passar pela nossa frente e o frio fazia-se sentir. Farois de nevoeiro seriam sem duvida apropriados. A partir do meio da ponte iniciamos a descida que nos levaria 'a meta. Foi so' baixar a cabeca, fazer um angulo recto com os bracos, elevar um pouco o rabo e, aerodinamicamente, ganhar velocidade e sentir o vento na cara e a entrar pelos buracos do capacete, ao mesmo tempo que algumas lagrimas tendiam em sair do rebordo dos olhos (tal era a velocidade, ah! Vertiginosa, hehhe!). Assim, quais D.Sebastiao, saiamos gloriosos e radiantes do nevoeiro para entrar de novo no calor do sol e cortar a meta (ja' por tantos cortada mas ainda por cortar por outros tantos).
A sensacao foi a de missao cumprida mas tambem de surpresa poi dada a vertente ludica que o percurso adquiriu nao custou nada. Contudo, verificamos que so' percorremos 39 milhas e nao 42, como esperado. "Enganaram-se!" pensamos. Nah! Estava tudo previsto!
As 3 milhas que faltavam eram as que separavam a meta do Ferry que nos levaria de novo a Manhattan. Isso sim, custou! Apos alguns minutos em pe', sentar o rabiosque de novo no celim nao foi pera doce. O que vale e' que em poucos minutos o traseiro ficou dormente e ja' nao sentiamos nada outra vez, hehehe. Ainda tivemos que esperar uma hora pelo ferry mas, como estavamos ao sol, ate' soube bem. No barco tambem foi giro ver todos os andares preenchidos por bicicletas e ciclistas. Estava tudo por nossa conta. Desta vez, o sorriso no rosto das pessoas era tambem uma constante, mas este de satisfacao e realizacao. O sentar numa superficie lisa foi como que o Paraiso. Estavamos todos tao bem que, ao passar pela Estatua da Liberdade, contavam-se pelos dedos aquels que ainda tinham disposicao para se levantar. Acho que a coitadinha nunca se deve ter sentido tao desprezada. Azarito!
Ainda recebi um elogio 'a minha bicicleta. Alguem que pedalava ao meu lado reconheceu:
"K-Mart?$99.99? Very good bybicle. I had one myself and still miss it!"
Ora toma la'. Afinal, tenho aqui uma verdadeira bomba, pensei. Reconhecida internacionalmente, hehehe (nao fosse ter um nome tao foleiro como Huffy e, se calhar, o pessoal ate' acreditava :))
A pedalar desde as 7 da matina (com algumas interrupcoes, e' certo), chegar a casa 'as 19h e tomar um banho pareceram irreais. O que 'e certo e' que, muito embora nao tenha custado, moeu. 'As 20:30 ja' estava deitada e so' acordei passadas 12 horas. Ah, valente!
Afinal nao fiquei "que nem posso". Talvez porque as mulheres ja' tem a sua dose natural de "almofadas", os calcoes reforcados foram dispensaveis.
"Entao, e as dores musculares? Onde estao?" Nada, no dia seguinte nao sentia nada! So' mesmo o escaldao na cara me reafirmava que sim, tinha participado naquela volta fantastica.
Ja' agendamos: para o ano la' vamos nos outra vez! :)

Saturday, May 01, 2004

 

"Prognosticos... so' depois do jogo!"

Algo me diz que no fim do dia de amanha estarei a precisar de 1/4 de aguas Breeze... que e' como quem diz: estarei "que nem posso".
Se ja' de si pedalar 60 km e' dificil, que fara' sem os preciosos calcoes almofadados!
Ai, ja' me esta' a doer! :)

 

E o filme continua...

Como nao ha duas sem tres, ontem presenciei mais uma cena Hollywoodesca.
De regresso a casa apos uma festa, ja' por volta das 3 da manha, caminhava pela area residencial onde moro, normalmente bastante pacata e calma, quando passam por mim a alta velocidade e com as respectivas luzes de alarme acessas os dois carros da seguranca que costumam fazer a ronda. Pararam mais 'a frente, junto a um grupo de rapazes e raparigas que, sem grande alarido, marcavam a sua presenca a falar e rir alto. Qual cena de cinema, um dos guardas sai do carro com o respectivo bastao e vozeirao e poe o pessoal todo encostado 'a parede, de pernas e bracos abertos. Ao que parece, alguem se queixou do barulho e, pimba, nao estao com meias medidas... mais um pouco e parecia que iam todos para a prisao.
Confesso que, ultimamente, tenho a nitida sensacao de andar a viver num filme... (suspiro!)

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