Tuesday, May 04, 2004
Teca, Teca, Teca... Zinga, Zinga, Zinga... Zzwwweeeee!!! Fantastico!
Domingo, 6:30 da manha.
O dia estava cinzento e pouco convidativo. Vacilei entre o sair de casa e o permanecer no edredon quentinho. O boletim metereologico previa chuva e trovoada. Em busca de algum apoio, telefonei ao Thomas e 'a Celia para saber o que pensavam fazer.
"Nos vamos!!"
Acho que lhes ficarei eternamente grata por esta frase, pois o ter decidido ir ao Bike New York foi das melhores coisas que ja' fiz. Este e' um evento que ocorre anualmente em NY e que preve um percurso de 42 milhas (aproximadamente 60 km) ao longo dos quais milhares de pessoas pedalam e percorrem os 5 "bairros": Manhattan, Bronx, Queens, Brooklyn e Staten Island. 'As 7 da matina la' me encontrava eu no cruzamento da Houston com a Broadway, como combinado, revelando-se o percurso ate' la' ja' bastante interessante. De todos os lados surgiam grupos de ciclistas que, sem excepcao, se dirigiam para Battery Park. Alguns rasgos de originalidade ja' deixavam adivinhar o festival que se aproximava. Chegados ao local de partida, o entusiasmo dominante nem nos deixava perceber que estavamos com o Ground Zero por cenario. Tanto para a frente como para tras so' conseguiamos vislumbrar um mar interminavel de gente. 30.000 pessoas reunidas numa festa de cor e energia.
Os capacetes eram sem duvida motivo para admiracao uma vez que muitos deles estavam enfeitados com os mais diversos objectos: ventoinhas, girassois, latas de Coca-Cola, flores, garrafas, desentupidores de casa-de-banho, peluches, cabelos posticos, antenas... tudo e mais alguma coisa. Muitas "bicicletas" tambem primavam pela originalidade, ora por serem daquelas antigas com uma roda gigante ou, no outro extremo, por serem muito modernas e aerodinamicas, serem rente ao chao, serem para 3 pessoas, serem um cart de tenis, puxarem mini-carruagens com criancas la' dentro (note-se, entretidas com livros e/ou DVD players... modernices!!). Muitos ciclistas impunham respeito pela profissionalidade com que ostentavam os fatos e acessorios especificos e especiais, o que contrastava com a maioria do pessoal: barrigudos e barrigudas, gordos e gordas, velhotes e velhotas, altos, baixos... mas todos com uma coisa em comum: um sorriso e uma boa disposicao extraordinarios e uma vontade enorme de pedalar.
Ainda demorou ate' que comecassemos a avancar pois, muito embora as avenidas sejam largas, era tal o numero de pessoas que tinhamos que partir em blocos. Foi uma delicia e o descobrir de uma nova cidade quando finalmente pedalamos pela Av. das Americas (6ยช Avenida), completamente vedada ao transito e reservada so' para nos. O som era inexplicavel. O teca-teca-teca das correntes gerava um som silencioso e harmonioso que nao passava despercebido a nenhum de nos, habituados ao barulho do transito. "Qual maratona qual carapuca!" dizia o Thomas, "Isto e' que e' The Real Thing!". Todos estavamos possuidos por aquela euforia e alegria miudinha que, a' medida que perdemos a nossa meninice, se torna cada vez mais rara e precisosa. Inexplicavel!!
Atravessada a Avenida chegamos ao Central Park, juntamente com alguns aguaceiros que, dai' a nada, se converteram em verdadeira chuva. Mas nada parecia esmorecer o pessoal. Ja' toda encharcada e a pingar agua pelo capacete e canelas abaixo, continuava toda entusiasmada a pedalar. Senti-me qual corredor profissional que, independentemente das adversidades, continua firme na sua contenda. Zinga-zinga-zinga la' fomos nos acima e abaixo pelo parque fora. Note-se que o "zinga-zinga" aqui mencionado se refere a uma das muitas vezes que me lembrei do meu pai. Ele usa sempre esta expressao para descrever um movimento continuado, revestido de algum esforco, mas que nos leva sempre a algo que desejamos. Nao podia ser mais apropriado!
Entramos no Harlem ainda com chuva mas, quando ja' nos iamos a dirigir para o Bronx, o S.Pedro la' deciciu dar-nos umas treguas. Curioso como, so' de observar a area, se percebe perfeitamente onde estamos. No Harlem a religiosidade esta' extremamente presente nos edifios (que exibem cartazes com o nome de Jesus, ceitas e Igrejas) e nas pessoas. O tipico negro, corpulento, qual Gospel, estava em todo o lado. Tambem foi facil perceber quando entramos no Bronx, infelizmente pela pobreza e degradacao. O mais engracado e' que foi neste cenario que experienciamos uma das situacoes mais engracadas e ternas de toda a corrida. No meio daquele cenario desolador, uma mulatita, dos seu 6 ou 7 anos, juntamente com a sua mae, produzia alegremente bolas de sabao junto 'a berma da estrada. Criava uma cortina quase que magica, por onde todos tinhamos que passar. As bolas de sabao e a felicidade do sorriso branco daquela crianca fizeram-me sorrir! Foi das coisas que mais gostei!
Em determinado troco da autoestrada tivemos que atravessar um tunel. Foi um espectaculo! A nocao de eco trouxe 'a superficie de cada um dos ciclistas os instintos mais basicos, comecando o pessoal todos aos gritos, berros e guinchos. Eu so' me ria! Olhando para os meus companheiros de Tour, vi que a reaccao era a mesma. Naquele chinfrim todo conseguia distinguir-se a evolucao que sofremos, como especie humana (ok, ja' sei que isto e' visao de Biologa, hehehe). Havia desde guinchos a imitar chimpanzes e macacos, passando pelo tao tipico berro do Tarzan. Claro que o grito mais evoluido surgiu quando, de goelas abertas, gritei "Bibo' Puuoorrttto!!!!!". O que vale e' que ninguem me percebia, hehehe. Coisas...
A organizacao do evento foi extraordinaria, nao faltando montes de pontos de assistencia e sinalizacao ao longo do percurso, bem como a presenca de ambulancias e policia. A determinada altura, apos uma leve subida, atingimos um pico a partir do qual comecariamos a descer bastante. Como em todos os locais propensos a quedas, la' se encontrava um mafarrico de colete fluorescente e megafone a avisar "Curve to the right! Slow Down! Slown Down!"
A coisa nao me pareceu assim tao perigosa pelo que nao estive com meias medidas: zinga, zinga, zinga para ganhar lanco e, quando a descer:
Zzzwwwwwweeeeeeeee (como diz o Joao em situacoes de movimento alucinante)... e la' fui eu.
Ao ver-me com tanto speed o homenzito tambem nao se atrapalhou:
"Slow Down! No zweee!!"
Fonfonfon! Fonfonfon! Foi risota geral, nao so' entre mim e os meus "companheiros de luta" bem como entre todos os que pedalavam naquela area. Dai' em diante, cada vez que iamos numa descida, la' um de nos se lembrava de fazer zweeeee e desatavamos a rir!
Num dos pontos de reabastecimento paramos e qual nao e' o nosso espanto quando vemos a pedalar um pouco mais 'a nossa frente uma moca vestida de noiva. "Deve ser no gozo" pensamos mas, aproximando-nos um pouco mais, vimos que ela ia juntamente com um rapaz igualmente aperaltado e que, em ambas as bicicletas, figurava um cartaz onde se lia "Just married". "Espectacular! So' mesmo este Americanos doidos para fazer isto!"", disse eu, ao que o Thomas me respondeu com um sorriso "You're so naive Ines!!". Contudo, o ramo de flores frescas, os sapatos de salto alto e a maquilhagem nao me conveceram que seria so' para o gozo. Assim que tive oportunidade, nessa area de reabastecimento dirigi-me a eles:
"Did you get married today?"
"Yes!"
Afinal de contas nao sou assim tao ingenua, hehee. Aqui, tudo e' possivel.
Nos entretantos, o tempo passou de chuvoso e morrinhento para enevoado e depois para algumas abertas com sol, que se foram alargando cada vez mais, terminando numa tarde de sol optima. Por esta altura pedalavamos ja' no fim de Queens, pela autoestrada, em direccao 'a ponte Verizzano, que une Queens a Staten Island. E' uma ponte de varios kilometros mas que nos so' podemos imaginar pois ve-los... nem po'. Isto porque todo o tabuleiro da ponte se encontrava envolto por uma nuvem que parecia ter la' sido posta de proposito. Via-se o inicio da ponte, via-se o fim mas o meio ficava como que num limbo. Reservaram para o fim o pedaco mais custoso mas, mesmo assim, nada de extraordinario. Num ram-ram algo lento, fomos subindo o relevo ingreme. O vento de lado nao ajudava. Entrando na ponte, viamos o nevoeiro passar pela nossa frente e o frio fazia-se sentir. Farois de nevoeiro seriam sem duvida apropriados. A partir do meio da ponte iniciamos a descida que nos levaria 'a meta. Foi so' baixar a cabeca, fazer um angulo recto com os bracos, elevar um pouco o rabo e, aerodinamicamente, ganhar velocidade e sentir o vento na cara e a entrar pelos buracos do capacete, ao mesmo tempo que algumas lagrimas tendiam em sair do rebordo dos olhos (tal era a velocidade, ah! Vertiginosa, hehhe!). Assim, quais D.Sebastiao, saiamos gloriosos e radiantes do nevoeiro para entrar de novo no calor do sol e cortar a meta (ja' por tantos cortada mas ainda por cortar por outros tantos).
A sensacao foi a de missao cumprida mas tambem de surpresa poi dada a vertente ludica que o percurso adquiriu nao custou nada. Contudo, verificamos que so' percorremos 39 milhas e nao 42, como esperado. "Enganaram-se!" pensamos. Nah! Estava tudo previsto!
As 3 milhas que faltavam eram as que separavam a meta do Ferry que nos levaria de novo a Manhattan. Isso sim, custou! Apos alguns minutos em pe', sentar o rabiosque de novo no celim nao foi pera doce. O que vale e' que em poucos minutos o traseiro ficou dormente e ja' nao sentiamos nada outra vez, hehehe. Ainda tivemos que esperar uma hora pelo ferry mas, como estavamos ao sol, ate' soube bem. No barco tambem foi giro ver todos os andares preenchidos por bicicletas e ciclistas. Estava tudo por nossa conta. Desta vez, o sorriso no rosto das pessoas era tambem uma constante, mas este de satisfacao e realizacao. O sentar numa superficie lisa foi como que o Paraiso. Estavamos todos tao bem que, ao passar pela Estatua da Liberdade, contavam-se pelos dedos aquels que ainda tinham disposicao para se levantar. Acho que a coitadinha nunca se deve ter sentido tao desprezada. Azarito!
Ainda recebi um elogio 'a minha bicicleta. Alguem que pedalava ao meu lado reconheceu:
"K-Mart?$99.99? Very good bybicle. I had one myself and still miss it!"
Ora toma la'. Afinal, tenho aqui uma verdadeira bomba, pensei. Reconhecida internacionalmente, hehehe (nao fosse ter um nome tao foleiro como Huffy e, se calhar, o pessoal ate' acreditava :))
A pedalar desde as 7 da matina (com algumas interrupcoes, e' certo), chegar a casa 'as 19h e tomar um banho pareceram irreais. O que 'e certo e' que, muito embora nao tenha custado, moeu. 'As 20:30 ja' estava deitada e so' acordei passadas 12 horas. Ah, valente!
Afinal nao fiquei "que nem posso". Talvez porque as mulheres ja' tem a sua dose natural de "almofadas", os calcoes reforcados foram dispensaveis.
"Entao, e as dores musculares? Onde estao?" Nada, no dia seguinte nao sentia nada! So' mesmo o escaldao na cara me reafirmava que sim, tinha participado naquela volta fantastica.
Ja' agendamos: para o ano la' vamos nos outra vez! :)
O dia estava cinzento e pouco convidativo. Vacilei entre o sair de casa e o permanecer no edredon quentinho. O boletim metereologico previa chuva e trovoada. Em busca de algum apoio, telefonei ao Thomas e 'a Celia para saber o que pensavam fazer.
"Nos vamos!!"
Acho que lhes ficarei eternamente grata por esta frase, pois o ter decidido ir ao Bike New York foi das melhores coisas que ja' fiz. Este e' um evento que ocorre anualmente em NY e que preve um percurso de 42 milhas (aproximadamente 60 km) ao longo dos quais milhares de pessoas pedalam e percorrem os 5 "bairros": Manhattan, Bronx, Queens, Brooklyn e Staten Island. 'As 7 da matina la' me encontrava eu no cruzamento da Houston com a Broadway, como combinado, revelando-se o percurso ate' la' ja' bastante interessante. De todos os lados surgiam grupos de ciclistas que, sem excepcao, se dirigiam para Battery Park. Alguns rasgos de originalidade ja' deixavam adivinhar o festival que se aproximava. Chegados ao local de partida, o entusiasmo dominante nem nos deixava perceber que estavamos com o Ground Zero por cenario. Tanto para a frente como para tras so' conseguiamos vislumbrar um mar interminavel de gente. 30.000 pessoas reunidas numa festa de cor e energia.
Os capacetes eram sem duvida motivo para admiracao uma vez que muitos deles estavam enfeitados com os mais diversos objectos: ventoinhas, girassois, latas de Coca-Cola, flores, garrafas, desentupidores de casa-de-banho, peluches, cabelos posticos, antenas... tudo e mais alguma coisa. Muitas "bicicletas" tambem primavam pela originalidade, ora por serem daquelas antigas com uma roda gigante ou, no outro extremo, por serem muito modernas e aerodinamicas, serem rente ao chao, serem para 3 pessoas, serem um cart de tenis, puxarem mini-carruagens com criancas la' dentro (note-se, entretidas com livros e/ou DVD players... modernices!!). Muitos ciclistas impunham respeito pela profissionalidade com que ostentavam os fatos e acessorios especificos e especiais, o que contrastava com a maioria do pessoal: barrigudos e barrigudas, gordos e gordas, velhotes e velhotas, altos, baixos... mas todos com uma coisa em comum: um sorriso e uma boa disposicao extraordinarios e uma vontade enorme de pedalar.
Ainda demorou ate' que comecassemos a avancar pois, muito embora as avenidas sejam largas, era tal o numero de pessoas que tinhamos que partir em blocos. Foi uma delicia e o descobrir de uma nova cidade quando finalmente pedalamos pela Av. das Americas (6ยช Avenida), completamente vedada ao transito e reservada so' para nos. O som era inexplicavel. O teca-teca-teca das correntes gerava um som silencioso e harmonioso que nao passava despercebido a nenhum de nos, habituados ao barulho do transito. "Qual maratona qual carapuca!" dizia o Thomas, "Isto e' que e' The Real Thing!". Todos estavamos possuidos por aquela euforia e alegria miudinha que, a' medida que perdemos a nossa meninice, se torna cada vez mais rara e precisosa. Inexplicavel!!
Atravessada a Avenida chegamos ao Central Park, juntamente com alguns aguaceiros que, dai' a nada, se converteram em verdadeira chuva. Mas nada parecia esmorecer o pessoal. Ja' toda encharcada e a pingar agua pelo capacete e canelas abaixo, continuava toda entusiasmada a pedalar. Senti-me qual corredor profissional que, independentemente das adversidades, continua firme na sua contenda. Zinga-zinga-zinga la' fomos nos acima e abaixo pelo parque fora. Note-se que o "zinga-zinga" aqui mencionado se refere a uma das muitas vezes que me lembrei do meu pai. Ele usa sempre esta expressao para descrever um movimento continuado, revestido de algum esforco, mas que nos leva sempre a algo que desejamos. Nao podia ser mais apropriado!
Entramos no Harlem ainda com chuva mas, quando ja' nos iamos a dirigir para o Bronx, o S.Pedro la' deciciu dar-nos umas treguas. Curioso como, so' de observar a area, se percebe perfeitamente onde estamos. No Harlem a religiosidade esta' extremamente presente nos edifios (que exibem cartazes com o nome de Jesus, ceitas e Igrejas) e nas pessoas. O tipico negro, corpulento, qual Gospel, estava em todo o lado. Tambem foi facil perceber quando entramos no Bronx, infelizmente pela pobreza e degradacao. O mais engracado e' que foi neste cenario que experienciamos uma das situacoes mais engracadas e ternas de toda a corrida. No meio daquele cenario desolador, uma mulatita, dos seu 6 ou 7 anos, juntamente com a sua mae, produzia alegremente bolas de sabao junto 'a berma da estrada. Criava uma cortina quase que magica, por onde todos tinhamos que passar. As bolas de sabao e a felicidade do sorriso branco daquela crianca fizeram-me sorrir! Foi das coisas que mais gostei!
Em determinado troco da autoestrada tivemos que atravessar um tunel. Foi um espectaculo! A nocao de eco trouxe 'a superficie de cada um dos ciclistas os instintos mais basicos, comecando o pessoal todos aos gritos, berros e guinchos. Eu so' me ria! Olhando para os meus companheiros de Tour, vi que a reaccao era a mesma. Naquele chinfrim todo conseguia distinguir-se a evolucao que sofremos, como especie humana (ok, ja' sei que isto e' visao de Biologa, hehehe). Havia desde guinchos a imitar chimpanzes e macacos, passando pelo tao tipico berro do Tarzan. Claro que o grito mais evoluido surgiu quando, de goelas abertas, gritei "Bibo' Puuoorrttto!!!!!". O que vale e' que ninguem me percebia, hehehe. Coisas...
A organizacao do evento foi extraordinaria, nao faltando montes de pontos de assistencia e sinalizacao ao longo do percurso, bem como a presenca de ambulancias e policia. A determinada altura, apos uma leve subida, atingimos um pico a partir do qual comecariamos a descer bastante. Como em todos os locais propensos a quedas, la' se encontrava um mafarrico de colete fluorescente e megafone a avisar "Curve to the right! Slow Down! Slown Down!"
A coisa nao me pareceu assim tao perigosa pelo que nao estive com meias medidas: zinga, zinga, zinga para ganhar lanco e, quando a descer:
Zzzwwwwwweeeeeeeee (como diz o Joao em situacoes de movimento alucinante)... e la' fui eu.
Ao ver-me com tanto speed o homenzito tambem nao se atrapalhou:
"Slow Down! No zweee!!"
Fonfonfon! Fonfonfon! Foi risota geral, nao so' entre mim e os meus "companheiros de luta" bem como entre todos os que pedalavam naquela area. Dai' em diante, cada vez que iamos numa descida, la' um de nos se lembrava de fazer zweeeee e desatavamos a rir!
Num dos pontos de reabastecimento paramos e qual nao e' o nosso espanto quando vemos a pedalar um pouco mais 'a nossa frente uma moca vestida de noiva. "Deve ser no gozo" pensamos mas, aproximando-nos um pouco mais, vimos que ela ia juntamente com um rapaz igualmente aperaltado e que, em ambas as bicicletas, figurava um cartaz onde se lia "Just married". "Espectacular! So' mesmo este Americanos doidos para fazer isto!"", disse eu, ao que o Thomas me respondeu com um sorriso "You're so naive Ines!!". Contudo, o ramo de flores frescas, os sapatos de salto alto e a maquilhagem nao me conveceram que seria so' para o gozo. Assim que tive oportunidade, nessa area de reabastecimento dirigi-me a eles:
"Did you get married today?"
"Yes!"
Afinal de contas nao sou assim tao ingenua, hehee. Aqui, tudo e' possivel.
Nos entretantos, o tempo passou de chuvoso e morrinhento para enevoado e depois para algumas abertas com sol, que se foram alargando cada vez mais, terminando numa tarde de sol optima. Por esta altura pedalavamos ja' no fim de Queens, pela autoestrada, em direccao 'a ponte Verizzano, que une Queens a Staten Island. E' uma ponte de varios kilometros mas que nos so' podemos imaginar pois ve-los... nem po'. Isto porque todo o tabuleiro da ponte se encontrava envolto por uma nuvem que parecia ter la' sido posta de proposito. Via-se o inicio da ponte, via-se o fim mas o meio ficava como que num limbo. Reservaram para o fim o pedaco mais custoso mas, mesmo assim, nada de extraordinario. Num ram-ram algo lento, fomos subindo o relevo ingreme. O vento de lado nao ajudava. Entrando na ponte, viamos o nevoeiro passar pela nossa frente e o frio fazia-se sentir. Farois de nevoeiro seriam sem duvida apropriados. A partir do meio da ponte iniciamos a descida que nos levaria 'a meta. Foi so' baixar a cabeca, fazer um angulo recto com os bracos, elevar um pouco o rabo e, aerodinamicamente, ganhar velocidade e sentir o vento na cara e a entrar pelos buracos do capacete, ao mesmo tempo que algumas lagrimas tendiam em sair do rebordo dos olhos (tal era a velocidade, ah! Vertiginosa, hehhe!). Assim, quais D.Sebastiao, saiamos gloriosos e radiantes do nevoeiro para entrar de novo no calor do sol e cortar a meta (ja' por tantos cortada mas ainda por cortar por outros tantos).
A sensacao foi a de missao cumprida mas tambem de surpresa poi dada a vertente ludica que o percurso adquiriu nao custou nada. Contudo, verificamos que so' percorremos 39 milhas e nao 42, como esperado. "Enganaram-se!" pensamos. Nah! Estava tudo previsto!
As 3 milhas que faltavam eram as que separavam a meta do Ferry que nos levaria de novo a Manhattan. Isso sim, custou! Apos alguns minutos em pe', sentar o rabiosque de novo no celim nao foi pera doce. O que vale e' que em poucos minutos o traseiro ficou dormente e ja' nao sentiamos nada outra vez, hehehe. Ainda tivemos que esperar uma hora pelo ferry mas, como estavamos ao sol, ate' soube bem. No barco tambem foi giro ver todos os andares preenchidos por bicicletas e ciclistas. Estava tudo por nossa conta. Desta vez, o sorriso no rosto das pessoas era tambem uma constante, mas este de satisfacao e realizacao. O sentar numa superficie lisa foi como que o Paraiso. Estavamos todos tao bem que, ao passar pela Estatua da Liberdade, contavam-se pelos dedos aquels que ainda tinham disposicao para se levantar. Acho que a coitadinha nunca se deve ter sentido tao desprezada. Azarito!
Ainda recebi um elogio 'a minha bicicleta. Alguem que pedalava ao meu lado reconheceu:
"K-Mart?$99.99? Very good bybicle. I had one myself and still miss it!"
Ora toma la'. Afinal, tenho aqui uma verdadeira bomba, pensei. Reconhecida internacionalmente, hehehe (nao fosse ter um nome tao foleiro como Huffy e, se calhar, o pessoal ate' acreditava :))
A pedalar desde as 7 da matina (com algumas interrupcoes, e' certo), chegar a casa 'as 19h e tomar um banho pareceram irreais. O que 'e certo e' que, muito embora nao tenha custado, moeu. 'As 20:30 ja' estava deitada e so' acordei passadas 12 horas. Ah, valente!
Afinal nao fiquei "que nem posso". Talvez porque as mulheres ja' tem a sua dose natural de "almofadas", os calcoes reforcados foram dispensaveis.
"Entao, e as dores musculares? Onde estao?" Nada, no dia seguinte nao sentia nada! So' mesmo o escaldao na cara me reafirmava que sim, tinha participado naquela volta fantastica.
Ja' agendamos: para o ano la' vamos nos outra vez! :)