Tuesday, May 25, 2004

 

Concertos, o conserto necessario

Nada como um concerto para desanuviar a cabeca, libertar o corpo e a alma, descontrair, relaxar, socializar, dancar… ficar a sentir bem. Se remédio fosse, poder-se-ia dizer que nos últimos dias tomei uma overdose. Contudo, nunca a necessária para me deixar K.O.
Música é algo que nunca é demais.

Comecei na 6ª feira com o concerto dos Zero Seven. O sítio era muito fixe. Irving Plaza: tectos baixos, luzes indirectas, cortinas de veludo, chao e escadas de madeira. Muito acolhedor mas ao mesmo tempo suficientemente grande para albergar o pessoal todo sem que nos sentissemos apertados. Como esperado, a música que se escutou foi do agrado de todos. No fim, tanto a Célia como a Marie diziam ter sido um dos melhores concertos que já viram. Eu nao iria tao longe. Gostei, verdade, mas, a presenca de uma loira extremamente irritante constantemente a fazer piadinhas estúpidas no palco, contribui para que desenvolvesse um sentimento algo ambíguo. Se por uma lado nao gostei dela, ao mesmo tempo era a dona da voz mais sensual e intérprete da minha música preferida. Hhhmm… confesso que ainda nao sei como lidar com este dilema. No entanto, o balanco foi positivo e foi sem dúvida uma noite super agradável.

No Sábado variei um pouco de estilo e, juntamente com o Rui e os pais dele, fomos até um bar no Upper West side, sobejamente conhecido pelo Jazz que lá se toca e pelas Jam Sessions. Chama-se SMOKE e o nome só se deve mesmo å atmosfera intimista, mística e cúmplice que se experiencia lá dentro pois fumo, nem vê-lo. Essa é uma das particularidades de NY que tornam todos e quaisquer eventos públicos ainda mais agradáveis. Nada de tabaco! A luz das velas imperava e as poucas eléctricas que havia eram muito ténues. As pessoas distribuiam-se por pequenas mesas de madeira que acompanhavam os sofas de veludo verde ao comprimento da sala. Os músicos estavam pertíssimo. Nada de palcos ou estrados. Tudo ao mesmo nível, como se estivessemos entre amigos, na casa de um deles. O cabeca de lista era o trombonetista Steve Miles. Todos os músicos eram exímios intérpretes mas, o pianista encheu-me as medidas. Um indivíduo negro, grande. Lembrou-me a personagem principal do filme "Green Mile", com o Tom Hanks. Embora a estatura grande, conseguia ser bastante ágil e de uma sensibilidade extrema. Divertido, sorridente, castico. Parecia uma avozinho, daqueles que apetece apertar. Brincava com a música, com o piano, com os outros músicos, com o público. Impossível nao simpatizar com ele. O público era gente que apreciava mesmo jazz. Entao, olhando para a sala, vi-se um movimento partilhado e sincronizado de todos os corpos. Alguns dedos a estalar, uns dedos a batucar na mesa, uns pes a marcar o ritmo no chao.
Mais uma noite que se passou, mais uma noite agradável.

No Domingo, para variar um pouco, nao fui assistir a um concerto mas sim participar num. Foi o concerto do coro para o qual entrei há uns meses atrás. Cantámos numa igreja bastante grande, o que de incío me deixou com alguns receios quanto å capacidade que teríamos de ter publico que justificasse uma sala tao grande. Surpreendi-me pois tivemos mais de 400 pessoas a assistir, note-se, mesmo tendo que se pagar bilhete para entrar.
Soube-me pela vida estar naquele grupo, a cantar com uma orquestra como deve ser, um maestro devidamente aperaltado e com solistas de voz muito bons, elas de vestidos bonitos e coloridos… tal como quando se vai a um concerto “a sério”. Interpretámos uma missa de Beethoven com toda a intensidadde que conseguimos encontrar. Embora sejamos apenas 40 elementos, pareciamos ser 100, segundo o contrabaixista que nos acompanhou. No fim o pessoal explodiu numa chuva de aplausos enorme. Adoraram!!! Pelos vistos foi o melhor concerto de sempre deste grupo coral que só agora integrei. Embora cansados e transpirados, pois estava um calor húmido insuportável e tinhamos todos que envergar indumentarias pretas, o sentimento geral era de satisfacao e concretizacao. Gostei mesmo muito. Deu-me um gozo imenso.
Tal como iniciei esta cronica, torno a dizer… quando algumas coisas parecem nao ter conserto, nada com um concerto.

Comments: Post a Comment

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?