Tuesday, April 27, 2004

 

Palavras para que!....

Ha muita gente a trabalhar no departamento de Biologia do Desenvolvimento, muitas das quais ainda nao conheco, razao porque so' esboco um sorriso de cumprimento quando me cruzo com elas no corredor. Salvo algumas excepcoes, costumo receber uma resposta. Havia contudo um rapaz de quem nunca recebia mais que um timido baixar de olhos. Se o facto de alguns nao reagirem ao meu cumprimento nao me "aquecia nem arrefecia" o mesmo ja' nao se podia dizer deste moco. Nao e' bonito ou atraente. E' daquelas pessoas genuinamente boas e que transparecem isso no olhar e na tao tipica timidez... o que lhe confere um outro tipo de beleza, esta bem mais rara nos dias que correm. Simpatizei com ele imediatamente mas, havia sempre um especie de barreira invisivel que nao me permitia chegar ate' ele. Pois essa barreira deixou de existir ha coisa de uma semana e a razao pela qual tal sucedeu foi porque este moco se tornou pai.
Enquanto eu almocava num grupo de pessoas alguem o chamou e ele aproximou-se comecando a falar com uma delas. Pela conversa percebi o que tinha sucedido, pelo que o congratulei e desejei as melhores felicidades. Aquela cara na qual raramente conseguia ver uma expressao que nao fosse a de imediatamente desviar e esconder o olhar, agora transbordava de luz e alegria ao falar do nascimento da primeira filha. Embora ainda timido, o brilho nos olhinhos azuis e o sorriso franco diziam tudo. Pela primeira vez consegui estabelecer um dialogo com ele. Inebriado pela felicidade, no seu ingles com um agradavel sotaque russo, explicou-me num misto de orgulho e carinho todos os pormenores, desde peso, comprimento e vezes que a bebe' chora 'a noite.
Nao consigo descrever mas a sensacao que tenho e' a de que aquele estado de graca em que fica alguem que por amor se torna pai transmite um conforto contagiante. Volta e meia la' o encontro e pergunto como vai a Sophia. E' sempre a mesma explosao de alegria! Sei que ele gosta de falar sobre ela e a mim tambem me sabe bem. Fico sempre feliz ao ver tanta felicidade!
E' curioso como, muito embora ja' saiba que todos somos humanos e que ha' coisas que sao inerentes a todos os credos, racas e cores, me surpreende sempre agradavelmente constatar essa realidade. A felicidade de alguem que e' russo e se torna pai e' exactamente a mesma que sempre presenciei no meu pai, Portugues, e em iguais exemplos de nacionalidades tao dispares como Alemao, Chileno ou Japones. E' daquelas verdades universais. Passou-se o mesmo comigo ha cerca de 2 semanas atras quando, no laboratorio, telefonei ao Joao. A lingua Portuguesa e' completamente estranha 'a Katherine, rapariga Chinesa que trabalhava na bancada oposta mas que, ao ver-me tao sorridente e feliz imediatamente me perguntou, quando desliguei, se falava com o meu namorado. "Nao percebi nada do que disseste mas... da' para ver. Estas tao feliz!"
Desenrolou-se uma conversa sobre relacoes e sentimentos e, mais uma vez, confirmou-se que ha' empatias que nao precisam de traducao. Acho que ela tambem percebeu isso, pois a determinada altura abracou-me e disse-me "Afinal, percebes o que eu quero dizer... mesmo eu sendo Chinesa e tu Portuguesa!"
Palavras para que....

Comments: Post a Comment

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?