Sunday, February 01, 2004
Cheira-me que hoje a crónica vai ser alongada... não só porque já não escrevo há alguns dias, durante os quais muitas coisas se passaram mas porque hoje, desde que estou cá, me senti mais perdida que nunca... doeu-me a alma por transbordar de tanto vazio!
Só faz sentido falar disso no seguimento do que estes dias têm sido pelo que vou tentar começar pelo início.
Sexta feira... lá fui eu de malas e bagagens para a nova casa, qual saco ambulante... dificilmente se adivinharia que por baixo de uma kispo amarelo, uma mochilona azul e uma mala preta se encontrava uma pessoa. A prova disso é que o meu chefe se cruzou comigo e, embora lhe mostrasse um sorriso rasgado, ele nem me viu. O caminho que sempre me pareceu tão curto, entre o laboratório e a casa, desta vez pareceu-me imenso. Ainda bem que estava um frio de rachar pois assim não senti tanto o calor do esforço. Mesmo assim, deu para suar. Chegada ao meu destino, a viagem com as malas parecia ainda não ir terminar. Como todos os prédios naquela zona são iguais, enganei-me e entrei no número 5 em vez de 7. O pior é que por dentro os prédios também são todos iguais, pelo que não me apercebi da diferença.... até chegar ao andar que, sabia com certeza, ser o desejado. Só que o facto de me ter atendido uma velhota alertou-me para que algo estava errado. "Será que é no andar de cima? Ou será no de baixo?". Comecei logo com montes de dúvidas... que acabaram por se converter em mais um andar acima com as malas, mais um andar abaixo... e as malas sempre a passear. Decidi então ir até à rua de novo e olhar em volta... então fez-se luz! Porta errada!!
Após passear as malas e as ter deixado em casa, segui para o laboratório. Corri o meu primeiro gel, após primeira digest... eu sei que isto para a maioria das pessoas é chinês mas, basicamente, fiz coisas de cientista, daquelas que até aparecem nos Ficheiros Secretos, quando os actores se põem com ar de entendidos a analisar as bandas de DNA. Fiquei satisfeita! Estava agendada uma reunião com o boss para esse dia. Como anda sempre super ocupado, teve que a adiar para amanhã... resultado, Inês no laboratório, às 16:30 de Sábado... logo no fim de semana que me vou mudar. Paciência....
Sábado: acordei e pouco depois telefonaram-me os meus pais. Soube bem... já não os ouvia há duas semanas. Foi uma excelente maneira de começar o fim de semana da grande mudança. Deu forças! Devido à dita reunião, tentei aproveitar a manhã para ir à procura de coisas para a nova casita. Fartei-me de andar mas até fiz de propósito. Gosto de ver os cantos da cidade. Estava frio... a neve das últimas semanas nunca derreteu e só se tem vindo a acumular cada vez que neva mais um pouco. Vi um carro completamente bloqueado devido à enorme quantidade de neve que acumulou à sua volta e alguém estava a cavar, literalmente, para o poder tirar. Mesmo assim, acho que já me começo a habituar às temperaturas. O gorro e as luvas revelaram-se desnecessários e, mesmo assim, consegui ter as mãos quentíssimas... e quem me conhece bem sabe o quão difícil isto é de acontecer... no matter what the circumstances are!
Fui até à rua 10, na First Avenue... notava-se perfeitamente que me estava a aproximar de SoHo, ChinaTown e companhia. Como tinha tempo limitado não me alarguei muito na "excursão"... fica para a próxima... talvez quando o João estiver cá. Assim ainda é melhor!
Depois de encontrar uma loja que me foi aconselhada segui para a rua 14, desta feita na Third Avenue, onde fui ver o complexo desportivo da NYU. Unicamente o melhor que alguma vez vi... e por ser estudante cá vou pagar uma ninharia para poder usufruir dele. Quem pode, pode! Mas, para não me entusiasmar muito com a coisa, fiquei logo com uma situação chata associada. Fui à casa de banho e não é que fiquei com o fecho das calças estragado! Só abria ou abria... nada de fechar. Era só o que me faltava! O que vale é que tinha outro par de calças no apartamento e ainda tinha tempo de trocar se não, lá tinha que ir naquela bela figura falar com o Boss... só comigo! Mesmo assim consegui dar um jeito e pelo menos fechou.
Seguiu-se uma caminhada até à Seventh Avenue, passando pelo Union Square, ponto turístico que ainda não tinha visitado. A arquitectura é sempre um aspecto de interesse constante, em qualquer local de Nova Iorque... gostava de saber mais sobre esta área. De certeza que iria ter muito mais consciência da riqueza arquitectónica que me rodeia. Tenho que me debruçar sobre o assunto...
Nos entretantos fui também vendo o tipo de lojas que existem na área bem como onde poderia comprar uma depiladora. Já sei que estraga o cenário todo, isto são coisas de gaja. Quem é que está em NY à procura dessas coisas? Só mesmo uma gaja, não é! Pah, há coisas que são sempre necessárias e esta é uma delas, sem dúvida... e mal eu sabia que esta necessidade se revelaria o motivo para uma sessão de "enche o ego" muito agradável. Eis o que se passou: entrei numa loja de electrodomésticos super grande, com um balcão enorme, cheio de empregados. Porque o assunto eram coisas de mulheres (e porque também não tinha a certeza de a palavra em Inglês ser Epilator e de, provavelmente, ter que explicar para que era a máquina que eu queria) dirigi-me a uma rapariga. Tal foi a pontaria que eu tive que fui dar com uma tipa que, para além de não saber se eplitaror was the word, provavelmente também não sabia para que servia... nunca devia ter visto uma à frente pois disse-me que não tinham. Quando vou a sair da loja um dos empregados chama-me ao balcão. Até julguei que fosse para ver se eu levava algma coisa na mochila mas não... era pura e simplesmente para me "cantar". Após elogios rasgados ao meu sorriso, perguntou-me se eu tinha programa para a noite, blá, blá, blá... Confesso que estava um pouco embaraçada com a situação, o que por si já me fazia corar mas, porque estava toda agasalhada, preparada para ir para a rua, ainda mais vermelha fiquei... o que entusiasmou ainda mais o galanteador. Desviando a conversa perguntei pela dita Epilator que, afinal, tinham. Graças ao meu "belo sorriso" consegui um desconto de 30 Euros e um recibo com o telefone do dito. Claro que queria o recibo por causa da garantia mas, quem sabe o número me dá jeito para quando eu quiser outros electrodomésticos, hehehe. Estou a brincar... Mas gostei, faz sempre bem ao ego!
Não foi a primeira situação do género desde que aqui estou e, como já aconteceu sem que eu tivesse o meu belo casaco amarelo vestido, excluí a hipótese de que este fosse a razão. Assim, veio juntar mais uma forte prova em favor da minha teoria: quando estamos apaixonados, toda a gente repara em nós! É mesmo verdade... desde que o João apareceu na minha vida que várias situações do género se têm passado. Acho que as pessoas devem conseguir perceber o estado de felicidade em que estou e também querem. O fruto proibido é sempre o mais apetecido,certo? Azarito, este fruto já foi comprado :)
Entrei também numa loja de roupas e aí sim, senti-me bem por estar no meio destes americanos todos. Havia sempre tamanho que me servia e, ainda melhor, eram sempre os mais pequenos. Como se pode constatar, a magreza é um conceito que depende do contexto. Aqui por estas bandas acho que me insiro na categoria das elegantes. Eis um aspecto bom do "king Size" típico dos americanos.
Entrando em várias perfumarias apercebi-me, para grande espanto meu, que nenhuma delas tinha um dos meus perfumes preferido, DKNY... perfume este de um criador americano. Deixou de ser produzido. Azar, pensei eu mas, com algum investigação consegui encontrar uma loja com alguns resquícios de stock e o azar acabou por se converter em sorte. Por ter deixado de ser um artigo muito procurado, consegui comprar 100ml por um preço bem mais barato que na Europa... e lá vão 2 compras de gaja!
Acabei por gastar mais dinheiro do que previra mas, como eram coisas necessárias (não se esqueçam que estamos a falar do ponto de vista feminino), acho que valeu a pena. Comprei também umas velas e um desodorizante. Engraçado... agora que faço esta retrospectiva vejo que as coisas que comprei para tornar o meu espaço mais "meu" se relacionam todas com o proporcionar de boas sensações... gosto de sentir a pele lisa das pernas, do cheiro de velas aromáticas entranhado nos lençóis e de estar constantemente envolta num aroma com que me identifico... mais coisas de gaja, o que é que se há-de fazer :)
Às 16:30 estava no lab e a reunião com o chefe correu muito bem. Não só tratei das futuras direcções do meu projecto como também tratei de conseguir um laptop, só para mim. O meu chefe continua a ser muito porreiro e consistente... espero que se mantenha assim! Foi uma conquista importante.. assim, vou poder ouvir os meus CDs em casa, ter acesso à net para falar com os meus... adicionar mais "boas sensações" ao meu espaço. Saí do lab já tarde, para a minha última noite com o Empire State por cenário...acho que vou ter saudades, mas vai ser concerteza bom ir para a outra casa. Amanhã...
Domingo... hoje! Saí do apartamento bem cedo. Mais um saco às costas com os haveres necessários para os últimos 2 dias (sensação constante de ausência de pouso seguro). Fui ao IKEA na carrinha da Nathalia, que se voluntariou para me ajudar. O que já por si é uma contecimento que causa alguma excitação, que é o comprar coisas para algo nosso, para nós, acabou por ser uma aventura redobrada. A carrinha da Nathalia já deve ter uns bons anos... e quando digo bons digo mesmo MUITOS. Parecia a carrinha do Ace Ventura mas já muito velhinha... muito grande e "muita louca". Achei o carro uma curtição. Chegadas ao IKEA, consegui comprar quase tudo o que queria, excepto uma peça que já tinha encomendado a semana passada e que ainda não chegou Assim, viemos com o carro cheio de almofadas (para dormir e decorar), cadeira, edredon, capas de edredon, lençóis, toalhas, candeeiros, velas (não resisti...), lata para o lixo, secretária, cama (Queen Size) e, no tejadilho, um colchão (do mesmo tamanho). Tudo pela módica quantia de 800 Euros... não está mal, não senhor! Atámos o colchão aos suportes do carro, no que nos pareceu algo minimamente resistente. Fomos devagar, mas mesmo assim lá ia pondo a mão fora do carro de vez em quando para ter a certeza que o colchão não tinha ganho asas. A determinada altura levantou-se algum vento, pelo que ia a agarrar o desgraçado... nem sentia os dedos muito embora levasse luvas, mas era por uma causa justa. A situação era já de si caricata mas, as determinada altura, quando tive mesmo que pôr as mão um pouquinho para dentro ouviu-se um baque sobre as nossas cabeças. Eu e a Nathalia olhámos uma para outra e dissemos "This doesn't sound good"... e nem imaginam a cara com que fiquei quando pus a mão de fora e... nicles de colchão. "It's not here, I can't feel it!"... "But it didn't fall back did it?" Mas então estendi mais um pouco o braço e vi que ainda lá estava mas que a corda da parte da frente tinha rebentado. Tinhamos que parar mas, como íamos na autoestrada, não o podíamos fazer de qualquer maneira. Aí sim, virou uma aventura porque, embora o fosse a segurar com os dois braços, não conseguia aguentá-lo durante muito mais tempo... que situação. Lá conseguimos parar e, quando fomos a ver o que tinha acontecido, vimos que não tinha sido só a corda que rebentou... o carro é tão velho que, o suporte do tejadilho, se soltou. "what about now... what shall we do?". Bem, vai de fita-cola, daquela que nos filmes serve sempre para atar os membros das vítimas e tapar a boca... e que também parece ser um bom método de tortura ou depilação (embora estas palavras possam ser sinónimos). Desta feita, lá estava eu e a Nathalia na berma da autoestrada, a passar fita cola sobre um colchão queen size, penduradas no carro... soa tão perigoso quanto foi mas... que haviamos de fazer? Reatada a viagem, as emoções ainda não se ficavam por aqui... a meio do caminho a porta da Nathalia não fechava. Nesta altura só me dava vontade de rir... como me dá sempre que a situação é a mais inconveniente mas, após várias tentativas em que eu agarrava o colchão e o volante, lá se conseguiu fechar a porta. Que mais estaria para acontecer?
Conseguimos chegar a casa, levar tudo para cima e comecei depois a montar as coisas. A Sema tem sido uma querida e insistiu em ajudar-me mas declinei agradecendo... sei que anda ocupada e não lhe quis tomar o tempo. E até gostei de estar a montar a cama sozinha... parece um lego. Ao fim do dia estava um espectáculo, já com colchão e tudo. Como estava entusiasmada, pus mãos à obra para a cadeira, que também consegui bem. Seguiu-se a secretária e aí vi que afinal, mais uma coisa estava para acontecer... não é que a porra da caixa veio com uma peça a menos! Eu e a Sema andámos às voltas com o esquema e com as peças e talvez dê para montar mesmo com este defeito. Não me apetece nada ter que reclamar e, provavelmente ter que voltar à loja... New Jersey não é assim tão perto. É o que dá fazer compras fora da cidade... e no IKEA. Parece que é estigma da loja: sempre que se compra alguma coisa lá, tem que se regressar. Nunca se vai lá só uma vez... Parece-me que os Portuguese não estão imunes.
Conclusão, o quarto, que ainda não é quarto, está uma bela desarrumação com uma secretária semi-montada e ferramentas espalhadas pelo chão. Para desanuviar um bocado (porque passei das 14h até às 21h a montar a mobília) decidi ir, finalmente, tirar a roupa das malas... já faz 3 semanas. Por não ter comprado as prateleiras e gavetas que queria, não tenho propriamente um espaço para a pôr no quarto pelo que nestes primeiros tempos vai ficar num armário da casa. Quando comecei a tirar a roupa (e estava contente por o fazer pois a variedade do meu vestuário nas últimas 3 semanas tem sido bastante reduzida... e ainda por cima o fecho de uma das calças pifou) mais uma desilusão... de estar compactada há tanto tempo está completamente impossível de se vestir. Tem tudo que ser lavado e passado a ferro... acho que esta foi a gota de água. Comecei a sentir o vazio... que enche a garganta e forma um nó e faz com que os olhos fiquem turvos...
Está tudo uma confusão... à minha volta e cá dentro. A falta de estabilidade....
Senti-me sem uma vida: a minha vida está em malas, amarrotada e sem poder ser usada, ou espalhada pelo chão de um quarto que ainda não é quarto, semi montada porque faltam peças, colchão sem lençóis porque ainda tenho que lavar os que comprei, bem como as toalhas, sacos no hall de entrada com almofadas e edredon, sem comida porque não tive tempo para comprar... tudo frio, tudo caos! Tudo é provisório e não há nada seguro. O calor está tão longe... gostava de ter o João a abraçar-me... de poder chamar pelo pai ou pela mãe... de não estar só! Nem sequer posso telefonar... provisoriamente ainda não tenho um telefone. Mais uma coisa provisória...
Sei que estas coisas são normais e que daqui a uns dias já estará tudo melhor mas não deixa de ser algo que estou a sentir neste momento... por isso estou aqui, a escrever já depois da uma da manhã, porque de alguma forma é como consigo chegar perto do calor que agora me faz falta. A Sema revela-se uma boa ouvinte e bastante compreensiva... falei-lhe sobre este sentimento de instabilidade que ela disse compreender perfeitamente... mas que "tudo se vai resolver... You'll see Inês! Don't worry". Mesmo antes deste desabafo já me tinha dito que hoje ela faria o jantar, pôs-me super à vontade, deu-me lençóis e toalhas. Estou rodeada de boa gente mas, tantas mudanças fazem com que ainda não esteja capaz de as fazer passar do lado de fora cá para dentro... e quem enche cá dentro está tão longe!...
O choque cultural é grande... as mudanças são muitas, as exigências também... ainda não me adaptei!
Com tempo...
Amanhã vou tirar o dia para me dedicar a estabilizar a minha vida... de certeza que me vou sentir melhor!
Só faz sentido falar disso no seguimento do que estes dias têm sido pelo que vou tentar começar pelo início.
Sexta feira... lá fui eu de malas e bagagens para a nova casa, qual saco ambulante... dificilmente se adivinharia que por baixo de uma kispo amarelo, uma mochilona azul e uma mala preta se encontrava uma pessoa. A prova disso é que o meu chefe se cruzou comigo e, embora lhe mostrasse um sorriso rasgado, ele nem me viu. O caminho que sempre me pareceu tão curto, entre o laboratório e a casa, desta vez pareceu-me imenso. Ainda bem que estava um frio de rachar pois assim não senti tanto o calor do esforço. Mesmo assim, deu para suar. Chegada ao meu destino, a viagem com as malas parecia ainda não ir terminar. Como todos os prédios naquela zona são iguais, enganei-me e entrei no número 5 em vez de 7. O pior é que por dentro os prédios também são todos iguais, pelo que não me apercebi da diferença.... até chegar ao andar que, sabia com certeza, ser o desejado. Só que o facto de me ter atendido uma velhota alertou-me para que algo estava errado. "Será que é no andar de cima? Ou será no de baixo?". Comecei logo com montes de dúvidas... que acabaram por se converter em mais um andar acima com as malas, mais um andar abaixo... e as malas sempre a passear. Decidi então ir até à rua de novo e olhar em volta... então fez-se luz! Porta errada!!
Após passear as malas e as ter deixado em casa, segui para o laboratório. Corri o meu primeiro gel, após primeira digest... eu sei que isto para a maioria das pessoas é chinês mas, basicamente, fiz coisas de cientista, daquelas que até aparecem nos Ficheiros Secretos, quando os actores se põem com ar de entendidos a analisar as bandas de DNA. Fiquei satisfeita! Estava agendada uma reunião com o boss para esse dia. Como anda sempre super ocupado, teve que a adiar para amanhã... resultado, Inês no laboratório, às 16:30 de Sábado... logo no fim de semana que me vou mudar. Paciência....
Sábado: acordei e pouco depois telefonaram-me os meus pais. Soube bem... já não os ouvia há duas semanas. Foi uma excelente maneira de começar o fim de semana da grande mudança. Deu forças! Devido à dita reunião, tentei aproveitar a manhã para ir à procura de coisas para a nova casita. Fartei-me de andar mas até fiz de propósito. Gosto de ver os cantos da cidade. Estava frio... a neve das últimas semanas nunca derreteu e só se tem vindo a acumular cada vez que neva mais um pouco. Vi um carro completamente bloqueado devido à enorme quantidade de neve que acumulou à sua volta e alguém estava a cavar, literalmente, para o poder tirar. Mesmo assim, acho que já me começo a habituar às temperaturas. O gorro e as luvas revelaram-se desnecessários e, mesmo assim, consegui ter as mãos quentíssimas... e quem me conhece bem sabe o quão difícil isto é de acontecer... no matter what the circumstances are!
Fui até à rua 10, na First Avenue... notava-se perfeitamente que me estava a aproximar de SoHo, ChinaTown e companhia. Como tinha tempo limitado não me alarguei muito na "excursão"... fica para a próxima... talvez quando o João estiver cá. Assim ainda é melhor!
Depois de encontrar uma loja que me foi aconselhada segui para a rua 14, desta feita na Third Avenue, onde fui ver o complexo desportivo da NYU. Unicamente o melhor que alguma vez vi... e por ser estudante cá vou pagar uma ninharia para poder usufruir dele. Quem pode, pode! Mas, para não me entusiasmar muito com a coisa, fiquei logo com uma situação chata associada. Fui à casa de banho e não é que fiquei com o fecho das calças estragado! Só abria ou abria... nada de fechar. Era só o que me faltava! O que vale é que tinha outro par de calças no apartamento e ainda tinha tempo de trocar se não, lá tinha que ir naquela bela figura falar com o Boss... só comigo! Mesmo assim consegui dar um jeito e pelo menos fechou.
Seguiu-se uma caminhada até à Seventh Avenue, passando pelo Union Square, ponto turístico que ainda não tinha visitado. A arquitectura é sempre um aspecto de interesse constante, em qualquer local de Nova Iorque... gostava de saber mais sobre esta área. De certeza que iria ter muito mais consciência da riqueza arquitectónica que me rodeia. Tenho que me debruçar sobre o assunto...
Nos entretantos fui também vendo o tipo de lojas que existem na área bem como onde poderia comprar uma depiladora. Já sei que estraga o cenário todo, isto são coisas de gaja. Quem é que está em NY à procura dessas coisas? Só mesmo uma gaja, não é! Pah, há coisas que são sempre necessárias e esta é uma delas, sem dúvida... e mal eu sabia que esta necessidade se revelaria o motivo para uma sessão de "enche o ego" muito agradável. Eis o que se passou: entrei numa loja de electrodomésticos super grande, com um balcão enorme, cheio de empregados. Porque o assunto eram coisas de mulheres (e porque também não tinha a certeza de a palavra em Inglês ser Epilator e de, provavelmente, ter que explicar para que era a máquina que eu queria) dirigi-me a uma rapariga. Tal foi a pontaria que eu tive que fui dar com uma tipa que, para além de não saber se eplitaror was the word, provavelmente também não sabia para que servia... nunca devia ter visto uma à frente pois disse-me que não tinham. Quando vou a sair da loja um dos empregados chama-me ao balcão. Até julguei que fosse para ver se eu levava algma coisa na mochila mas não... era pura e simplesmente para me "cantar". Após elogios rasgados ao meu sorriso, perguntou-me se eu tinha programa para a noite, blá, blá, blá... Confesso que estava um pouco embaraçada com a situação, o que por si já me fazia corar mas, porque estava toda agasalhada, preparada para ir para a rua, ainda mais vermelha fiquei... o que entusiasmou ainda mais o galanteador. Desviando a conversa perguntei pela dita Epilator que, afinal, tinham. Graças ao meu "belo sorriso" consegui um desconto de 30 Euros e um recibo com o telefone do dito. Claro que queria o recibo por causa da garantia mas, quem sabe o número me dá jeito para quando eu quiser outros electrodomésticos, hehehe. Estou a brincar... Mas gostei, faz sempre bem ao ego!
Não foi a primeira situação do género desde que aqui estou e, como já aconteceu sem que eu tivesse o meu belo casaco amarelo vestido, excluí a hipótese de que este fosse a razão. Assim, veio juntar mais uma forte prova em favor da minha teoria: quando estamos apaixonados, toda a gente repara em nós! É mesmo verdade... desde que o João apareceu na minha vida que várias situações do género se têm passado. Acho que as pessoas devem conseguir perceber o estado de felicidade em que estou e também querem. O fruto proibido é sempre o mais apetecido,certo? Azarito, este fruto já foi comprado :)
Entrei também numa loja de roupas e aí sim, senti-me bem por estar no meio destes americanos todos. Havia sempre tamanho que me servia e, ainda melhor, eram sempre os mais pequenos. Como se pode constatar, a magreza é um conceito que depende do contexto. Aqui por estas bandas acho que me insiro na categoria das elegantes. Eis um aspecto bom do "king Size" típico dos americanos.
Entrando em várias perfumarias apercebi-me, para grande espanto meu, que nenhuma delas tinha um dos meus perfumes preferido, DKNY... perfume este de um criador americano. Deixou de ser produzido. Azar, pensei eu mas, com algum investigação consegui encontrar uma loja com alguns resquícios de stock e o azar acabou por se converter em sorte. Por ter deixado de ser um artigo muito procurado, consegui comprar 100ml por um preço bem mais barato que na Europa... e lá vão 2 compras de gaja!
Acabei por gastar mais dinheiro do que previra mas, como eram coisas necessárias (não se esqueçam que estamos a falar do ponto de vista feminino), acho que valeu a pena. Comprei também umas velas e um desodorizante. Engraçado... agora que faço esta retrospectiva vejo que as coisas que comprei para tornar o meu espaço mais "meu" se relacionam todas com o proporcionar de boas sensações... gosto de sentir a pele lisa das pernas, do cheiro de velas aromáticas entranhado nos lençóis e de estar constantemente envolta num aroma com que me identifico... mais coisas de gaja, o que é que se há-de fazer :)
Às 16:30 estava no lab e a reunião com o chefe correu muito bem. Não só tratei das futuras direcções do meu projecto como também tratei de conseguir um laptop, só para mim. O meu chefe continua a ser muito porreiro e consistente... espero que se mantenha assim! Foi uma conquista importante.. assim, vou poder ouvir os meus CDs em casa, ter acesso à net para falar com os meus... adicionar mais "boas sensações" ao meu espaço. Saí do lab já tarde, para a minha última noite com o Empire State por cenário...acho que vou ter saudades, mas vai ser concerteza bom ir para a outra casa. Amanhã...
Domingo... hoje! Saí do apartamento bem cedo. Mais um saco às costas com os haveres necessários para os últimos 2 dias (sensação constante de ausência de pouso seguro). Fui ao IKEA na carrinha da Nathalia, que se voluntariou para me ajudar. O que já por si é uma contecimento que causa alguma excitação, que é o comprar coisas para algo nosso, para nós, acabou por ser uma aventura redobrada. A carrinha da Nathalia já deve ter uns bons anos... e quando digo bons digo mesmo MUITOS. Parecia a carrinha do Ace Ventura mas já muito velhinha... muito grande e "muita louca". Achei o carro uma curtição. Chegadas ao IKEA, consegui comprar quase tudo o que queria, excepto uma peça que já tinha encomendado a semana passada e que ainda não chegou Assim, viemos com o carro cheio de almofadas (para dormir e decorar), cadeira, edredon, capas de edredon, lençóis, toalhas, candeeiros, velas (não resisti...), lata para o lixo, secretária, cama (Queen Size) e, no tejadilho, um colchão (do mesmo tamanho). Tudo pela módica quantia de 800 Euros... não está mal, não senhor! Atámos o colchão aos suportes do carro, no que nos pareceu algo minimamente resistente. Fomos devagar, mas mesmo assim lá ia pondo a mão fora do carro de vez em quando para ter a certeza que o colchão não tinha ganho asas. A determinada altura levantou-se algum vento, pelo que ia a agarrar o desgraçado... nem sentia os dedos muito embora levasse luvas, mas era por uma causa justa. A situação era já de si caricata mas, as determinada altura, quando tive mesmo que pôr as mão um pouquinho para dentro ouviu-se um baque sobre as nossas cabeças. Eu e a Nathalia olhámos uma para outra e dissemos "This doesn't sound good"... e nem imaginam a cara com que fiquei quando pus a mão de fora e... nicles de colchão. "It's not here, I can't feel it!"... "But it didn't fall back did it?" Mas então estendi mais um pouco o braço e vi que ainda lá estava mas que a corda da parte da frente tinha rebentado. Tinhamos que parar mas, como íamos na autoestrada, não o podíamos fazer de qualquer maneira. Aí sim, virou uma aventura porque, embora o fosse a segurar com os dois braços, não conseguia aguentá-lo durante muito mais tempo... que situação. Lá conseguimos parar e, quando fomos a ver o que tinha acontecido, vimos que não tinha sido só a corda que rebentou... o carro é tão velho que, o suporte do tejadilho, se soltou. "what about now... what shall we do?". Bem, vai de fita-cola, daquela que nos filmes serve sempre para atar os membros das vítimas e tapar a boca... e que também parece ser um bom método de tortura ou depilação (embora estas palavras possam ser sinónimos). Desta feita, lá estava eu e a Nathalia na berma da autoestrada, a passar fita cola sobre um colchão queen size, penduradas no carro... soa tão perigoso quanto foi mas... que haviamos de fazer? Reatada a viagem, as emoções ainda não se ficavam por aqui... a meio do caminho a porta da Nathalia não fechava. Nesta altura só me dava vontade de rir... como me dá sempre que a situação é a mais inconveniente mas, após várias tentativas em que eu agarrava o colchão e o volante, lá se conseguiu fechar a porta. Que mais estaria para acontecer?
Conseguimos chegar a casa, levar tudo para cima e comecei depois a montar as coisas. A Sema tem sido uma querida e insistiu em ajudar-me mas declinei agradecendo... sei que anda ocupada e não lhe quis tomar o tempo. E até gostei de estar a montar a cama sozinha... parece um lego. Ao fim do dia estava um espectáculo, já com colchão e tudo. Como estava entusiasmada, pus mãos à obra para a cadeira, que também consegui bem. Seguiu-se a secretária e aí vi que afinal, mais uma coisa estava para acontecer... não é que a porra da caixa veio com uma peça a menos! Eu e a Sema andámos às voltas com o esquema e com as peças e talvez dê para montar mesmo com este defeito. Não me apetece nada ter que reclamar e, provavelmente ter que voltar à loja... New Jersey não é assim tão perto. É o que dá fazer compras fora da cidade... e no IKEA. Parece que é estigma da loja: sempre que se compra alguma coisa lá, tem que se regressar. Nunca se vai lá só uma vez... Parece-me que os Portuguese não estão imunes.
Conclusão, o quarto, que ainda não é quarto, está uma bela desarrumação com uma secretária semi-montada e ferramentas espalhadas pelo chão. Para desanuviar um bocado (porque passei das 14h até às 21h a montar a mobília) decidi ir, finalmente, tirar a roupa das malas... já faz 3 semanas. Por não ter comprado as prateleiras e gavetas que queria, não tenho propriamente um espaço para a pôr no quarto pelo que nestes primeiros tempos vai ficar num armário da casa. Quando comecei a tirar a roupa (e estava contente por o fazer pois a variedade do meu vestuário nas últimas 3 semanas tem sido bastante reduzida... e ainda por cima o fecho de uma das calças pifou) mais uma desilusão... de estar compactada há tanto tempo está completamente impossível de se vestir. Tem tudo que ser lavado e passado a ferro... acho que esta foi a gota de água. Comecei a sentir o vazio... que enche a garganta e forma um nó e faz com que os olhos fiquem turvos...
Está tudo uma confusão... à minha volta e cá dentro. A falta de estabilidade....
Senti-me sem uma vida: a minha vida está em malas, amarrotada e sem poder ser usada, ou espalhada pelo chão de um quarto que ainda não é quarto, semi montada porque faltam peças, colchão sem lençóis porque ainda tenho que lavar os que comprei, bem como as toalhas, sacos no hall de entrada com almofadas e edredon, sem comida porque não tive tempo para comprar... tudo frio, tudo caos! Tudo é provisório e não há nada seguro. O calor está tão longe... gostava de ter o João a abraçar-me... de poder chamar pelo pai ou pela mãe... de não estar só! Nem sequer posso telefonar... provisoriamente ainda não tenho um telefone. Mais uma coisa provisória...
Sei que estas coisas são normais e que daqui a uns dias já estará tudo melhor mas não deixa de ser algo que estou a sentir neste momento... por isso estou aqui, a escrever já depois da uma da manhã, porque de alguma forma é como consigo chegar perto do calor que agora me faz falta. A Sema revela-se uma boa ouvinte e bastante compreensiva... falei-lhe sobre este sentimento de instabilidade que ela disse compreender perfeitamente... mas que "tudo se vai resolver... You'll see Inês! Don't worry". Mesmo antes deste desabafo já me tinha dito que hoje ela faria o jantar, pôs-me super à vontade, deu-me lençóis e toalhas. Estou rodeada de boa gente mas, tantas mudanças fazem com que ainda não esteja capaz de as fazer passar do lado de fora cá para dentro... e quem enche cá dentro está tão longe!...
O choque cultural é grande... as mudanças são muitas, as exigências também... ainda não me adaptei!
Com tempo...
Amanhã vou tirar o dia para me dedicar a estabilizar a minha vida... de certeza que me vou sentir melhor!