Saturday, January 24, 2004

 
Ois... ontem o dia foi tao preenchido que nao tive tempo para escrever. Assim, eis as novidades do dia 23 de Janeiro.
Foi um dia diferente. Quase me arrisquei a ser ouvida em todos os Estados Unidos e ficar famosa mas... resisti 'a tentacao, hehehe. Passo a explicar: houve um programa na NPR (National Public Radio) sobre ciencia que, contrariamente ao normal, foi gravado em NY (normalmente e' gravado em Washington), nomeadamente na CUNY (City University of New York). Isto hoje e' so' abreviaturas.... ate' parece uma coisa importante! Continuando: uma das raparigas do lab conseguiu 3 ingressos para assistir ao vivo a esse programa, que era simultaneamente difundido em directo para todo o pais, e eu acabei por me juntar.
Estava um briol do cara**o (desculpem mas nao ha' palavras mansas para este frio todo) mas mesmo assim caminhamos ate' 'a 5ª Av. O auditorio era bastante grande e moderno e encontrava-se semi-cheio.... ou vazio, consoante quem esta' a ler este diario e' um optimista ou pessimista por natureza. Para o tipo de evento e, tendo em conta a possivel adesao que tal teria em Portugal, eu acho que estava semi-cheio. No palco alinhavam-se, com os respectivos microfones e auriculares, o locutor Ira Flatow e os convidados Arthur Giron (guionista, voz cava e com ar de quem estava com uma "ganda pazada"), J.Holtham (Director de Programas de Teatro), Brian Schwartz (Fisico e vice-presidente "for Research and Sponsored Programs"... com um curriculo impressionante mas ja' com alguns sinais de "teias de aranha"... e' a idade!) e Joshua Rosenblum (compositor, pianista e escritor de letras para as pecas Einstein's Dreams e Fermat's Last Tango... bastante comico e parecido com o carteiro da serie infantil "O Carteiro e o seu Gato Preto e Branco. Se calhar foi por isso que o achei tao comico!).
O tema era a ciencia e a arte, nomedamente a ciencia no teatro. Foi muito interessante e ate tivemos oportunidade de assistir ao vivo a duas interpretacoes de duas das musicas que fazem parte dos musicais acima referidos (acompanhadas ao piano pelo "carteiro"). Na primeira musica falava-se de como o amor e' bem mais dificil do que a ciencia, que e' bastante mais previsivel. Dois cantores, um bastante anafado e outro bastante magrinho, com cara de British, fizeram as honras da casa (os dois com ares de panilas, contudo). Parecia um ensaio para um espectaculo da Broadway! As expressoes facias e corporais enriqueceram bastante a musica e letra e eles eram bastante bons cantores. A segunda cancao foi interpretada por uma senhora bastante engracada, de olhos azuis pequenos e vivazes, que ate dancava um pouco sempre que a musica assim o exigia. Falava da esposa de um cientista que nao recebia a devida atencao do marido por ele estar sempre muito embrenhado em calculos e formulas e assim fazia muitas analogias a termos matematicos, especialmente 'a nocao de zero, nada ou vazio. Muito interessante!
Ao longo da conversa, tanto a plateia, no auditorio, como pessoas pelo telefone, podiam participar. Houve um altura em que o "carteiro" disse que uma das pecas dele tinha tido especial impacto em Portugal, tanto que ate o nosso Presidente Sampaio a foi ver. Ai, as minhas colegas saltaram logo da cadeira para me tentarem convencer a fazer alguma pergunta. Confesso que gostaria de ter feito uma pergunta que se formou logo na minha cabeca quanto ao impacto que os factores culturais poderao ter na aceitacao de pecas onde a ciencia e' retratada mas claro esta' que nao o fiz. Acho que no momento em que me visse com o microfone 'a frente, ciente de que todo o pais estava a ouvir, com todas aquelas caras e luzes a apontar para mim, pura e simplesmente nao conseguiria formar uma unica frase coerente em ingles. Pah, o que e' que querem?... Nao estava pronta para me tornar uma estrela logo na 2ª semana que ca' estava. E eu vim para ca' para trabalhar... se ficasse famosa, depois teria que passar mais tempo a dar autografos e entrevistas e... nao pode ser, hehehe!
Houve perguntas bastante interessantes mas, claro, tinha que haver um "totoinho" para estragar a festa... americano, claro! Via-se que o tipo queria mesmo era "aparecer" na radio. Assim, agarra no microfone e diz algo como "bla', bla', bla' (os americanos fazem sempre grandes introducoes... acho que tem a ver com o facto de adorarem ouvir-se) a ciencia esta' a caminhar perigosamente perto do precipicio, veja-se a bomba atomica, DNA, clonagem, etc. Acham que levar os cientistas ao teatro para ver pecas desta indole seria uma boa maneira de lhes incutir e ensinar moral e etica?".
Eu nao queria acreditar que aquele imbecil tinha feito aquela pergunta. "Oh, coisinho?!?! Nao tiveste ninguem que te educasse, nao?".
Como consequencia, geraram-se alguns comentarios que, a meu ver, deixaram a tonica no sitio errado. Disseram algo como "as pessoas tem que deixar de associar ao cientista uma faceta malevola", mas nao explicaram.
Esse tipo de associacao denota logo um preconceito... ainda por cima deformado. O cientista, na acepcao mais basica da palavra, e' alguem que busca o conhecimento, a descoberta. O cientista nao "inventa" para fazer o bem ou o mal... o cientista "inventa" para saber. Agora, o fim que esse conhecimento leva quando em determinado contexto politico, social, economico e' que se pode traduzir benefico ou nao. Alias, foi esta consciencia que levou 'a criacao do premio Nobel. Resumidamente, Alfred Nobel inventou a dinamite no sec.XIX, sem quaisquer intencoes destrutivas e, ao ver como uma aplicacao diferente daquela que ele esperava podia levar 'a guerra, decidiu investir a sua fortuna na promocao da paz pela ciencia, promovendo e apoiando o desenvolvimento ceintifico para que este fosse reconhecido e aplicado "devidamente". Epa'... se calhar devia ter falado. Vejo agora que esta me tinha ficado atravessada. Bem, leva o diario por tabela... como e' meu, posso fazer o que eu quiser, hehe!
No lab as coisas avancaram mais um pouquinho. Ja formei alguns casais de peixes para que amanha possa ter embrioes para observar ao microscopio. E isto claro porque ja aprendi a distinguir os machos das femeas. Curiosamente, o rosa revela-se a cor masculina enquanto que amarelo identifica o feminino. Portanto, quebra-se aqui outro preconceito: cor-de-rosa nao quer dizer menina!
Mas, de preconceitos estamos nos cheios e dessa nao nos livramos... veja-se o comentario que fiz sobre os cantores. Embora nao tenha nada contra os homossexuais nao consegui deixar de associar essa orientacao sexual com o mundo das artes. Vou ver se melhoro este lado da minha personalidade para poder criticar os americanos 'a vontade, hehehe. Off with prejudices!!
'A noite fui convidada para uma Jam Session no 38º oitavo andar de um dos edificios da Rockefeller University. Era o aniversaio de um italiano que nao conheco. A ideia pareceu-me apelativa mas, depois de ter caminhado 10 minutos para ir ate 'a minha futura casa para tirar as medidas do quarto e ter ficado quase congelada, nao me apeteceu andar outra vez ao frio quando tivesse que regressar da festa 'a noite. Mais oportunidades virao... espero!
O Empire State esta' branco... acho que e' a antever os proximos dias de pleno Inverno!

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